Elevou a voz de comando, ditou ordens. |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 1
Tocaia Grande é a história da fundação de uma cidade no sul da Bahia numa época em que as plantações de cacau eram adubadas com sangue.
A história conta a disputa pela terra e pelo domínio
político entre os coronéis Boaventura Amaral e Elias Daltro.
Tudo começa quando Natário da Fonseca quer deixar de ser
um simples jagunço para virar coronel. Natário se destaca... não, não digo
mais, vamos contar a história em episódios diários com descanso aos Domingos
como temos feito em romances anteriores de Jorge Amado.
Eu não conheço a história e vou lê-la, como os meus
amigos, episódio após episódio, saboreando...
JORGE AMADO
ROMANCE
TOCAIA GRANDE
A Face Obscura
O LUGAR
Natário da Fonseca, homem de confiança, arma tocaia em
lugar bonito.
1
Antes de existir qualquer casa, cavou-se
o cemitério ao sopé da colina, na margem esquerda do rio. As primeiras pedras
serviram para marcar as covas rasas nas quais foram enterrados os cadáveres no
fim da manhã, hora do meio-dia, quando finalmente o coronel Elias Daltro
apareceu cavalgando à frente de alguns poucos capangas – quatro gatos pingados,
os que haviam permanecido na fazenda – e se deu conta da extensão do desastre.
Não ficara sequer um cabra para contar a
história.
O coronel contemplou os corpos
ensanguentados. Benito morrera com o revólver na mão, não tivera ensejo de
atirar: a bala arrancara-lhe o tampo da cabeça, o coronel desviou a vista.
Compreendeu que aquela carnificina significava o fim, já não tinha meios para
prosseguir.
Trancou a aflição dentro do peito, não
deu mostras, não deixou que os outros percebessem. Elevou a voz de comando,
ditou ordens.
Apesar do temporal – chuva de açoite,
nuvens negras, trovões espoucando na mata – alguns urubus atraídos pelo sangue
e pelas vísceras expostas, sobrevoaram os homens ocupados no transporte dos
corpos e na abertura das covas.
- Depressa antes que o fedor aumente.
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