Largo do Seminário em Santarém |
HOJE É
DOMINGO
(Na minha cidade de Santarém em 6/7/14)
Tive em tempos uma relação que durou e acabou
como tudo na vida acaba. Chegados ao fim perguntei:
-
Porque me disseste, no início, aqui lo
que disseste? E ela respondeu com toda a sinceridade:
-
Disse o que disse porque sabia que era isso que tu querias ouvir.
Esta frase tem-me ocorrido muitas vezes à
memória quando oiço os políticos e especialmente António José Seguro. É que
depois de muito tempo sem dizer nada para não afrontar ninguém, como ele próprio
confessou, agora que foi desafiado, diz o que diz porque é o que os outros
querem ouvir:
- Aumenta o salário mínimo, renegoceia a
dívida, acaba com o IVA para a restauração, não aumenta impostos, não tinha
assinado o Acordo com a Troika que esteve na base do empréstimo ao país em
situação de falência, está aberto a concertar com outros países do Sul da
Europa a exigência de novas políticas da Comunidade mais favoráveis a Portugal,
enfim, não vai sobrar nada para António Costa dizer diferente dele...
A este, exige-se que tal como um
ilusionista, mergulhe a mão na cartola e tire o coelho, não o do governo, mas
um coelho mágico que todos sabem não existir.
O seu instinto de sobrevivência política
levou-o a blindar os estatutos do partido para garantir o seu lugar até às
próximas eleições legislativas onde pensava sair 1º Ministro.
Uma vez desafiado democraticamente por
António Costa que não aceitou a “grande” vitória de Pirro nas eleições para o
Parlamento Europeu proclamada por Seguro e seus apoiantes, recusou a clarificação
em Congresso extraordinário porque o estatuto não o permitia - por alguma razão
o blindou... - mas, para que não se
dissesse que tinha medo inventou umas primárias lá para fins de Setembro,
Outubro, o que lhe dá tempo suficiente para aplicar todos os seus esquemas de
sobrevivência política à custa do partido que vai fritar em lume brando até lá.
As rupturas no país estão a acentuar-se:
pobres e ricos, novos pobres oriundos da classe média, público e privado, os
que ficam e os que partem, os jovens empreendedores e os velhos reformados e
pensionistas e agora, cereja em cima do bolo, um PS esfrangalhado que em
próximas eleições legislativas, com Seguro ou Costa, vai ver muito diminuída a
sua votação dificultando as soluções para o futuro do país que fica desiquilibrado politicamente.
Estes mais de dois meses da
responsabilidade de Seguro vão acrescentar ódios onde eles talvez não
existissem para além de diferentes sensibilidades.
As intrigas, ameaças, acusações, reforço
das promessas, tudo irá servir para o aparelho se defender... São empregos ou
futuros empregos que estão em causa numa fase da vida nacional em que eles são
ouro. Em sua defesa, esta gente, como denuncia Pacheco Pereira, faz com que os
homens da CGTP – Intersindical, pareçam meninos de coro.
No Parlamento, Seguro, parece agora um
animal feroz a atacar o Governo relegando para segundo plano o calejado
Jerónimo de Sousa que deve estar admirado com esta concorrência de última hora.
Para um país que tão necessitado está de
entendimento pós eleições legislativas, a situação presente não augura nada de
bom. Seguro, ao longo de três anos de oposição no Parlamento, veio perdendo
todos os confrontos com Passos Coelho e neste momento, em julgamento de
carácter, o actual chefe do governo dá uma banhada ao chefe da oposição e os
portugueses, de uma vez para sempre, têm que começar a aprender que uma pessoa
sem carácter não serve para amigo e muito menos para político, dirigente de um
país, quando foge aos desafios políticos escondendo-se cobardemente, atrás de
regulamentos que ele próprio preparou “avisadamente”.
António José Seguro tem 52 anos, tantos
quanto António Costa, e grande parte deles na política partidária para a qual
entrou e nunca saiu. António Costa, entrou também muito cedo para o partido mas
exerceu advocacia durante alguns anos e funções ministeriais e autárqui cas sendo, presentemente, Presidente da Câmara de
Lisboa cujas eleições ganhou com mais de 50% de votos.
Ambos sabem perfeitamente que em
democracia um desafio político não é um roubo nem uma traição. António Costa
nunca ousaria chamar de ladrão e traidor a António José Seguro, que o disse
apenas, e não é pouco, para despertar ódios entre os seus apoiantes para com
António Costa. Os espectadores do 2º balcão, a “pildra”, como já lhe chamei, e
para quem José Seguro fala representando, adoram ouvir estas acusações porque
despertam neles toda a adrenalina que os excitam como nos bons espectáculos de
luta onde serve tudo para derrubar o adversário.
Há muito que leio e ouço António Costa e
sei o que ele pensa através de um raciocínio estruturado com base na sua sólida
formação política e cultural. De António José Seguro, que nunca me seduziu,
confesso, conheço principalmente os “sond bites” com que procura impressionar
os seus auditórios.
As próximas eleições legislativas de
2015, com Costa ou Seguro, irão ser um terrível teste para o PS.
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