é saber ganhar...
Este Mundial tem sido o do “chorinho”. Lágrimas dos que ganham, lágrimas dos que perdem, lágrimas dos que assistem nos estádios e por esse mundo fora, não contando com os fanicos que também os deve ter havido.
A razão é a mesma: é que este ano,
excepção feita a Portugal que não se ficou pelas lágrimas, foi mais fundo com a
cabazada da Alemanha por 4-0, os restantes jogos têm sido decididos nas rectas
finais, prolongamentos e penaltis, a provocarem emoções, respirações suspensas,
angústias, até que, finalmente, tudo acaba na derradeira tristeza da derrota ou
na infinita alegria da vitória no último minuto, quando não no último segundo.
Vejam o que aconteceu ontem: - aqui lo que parecia uma vitória pacífica do Brasil por
2 a 0
transformou-se, nos últimos 10 minutos, depois do golo da Colômbia, no maior
sufoco para os brasileiros agravada com a perda do seu craque Neimar vítima de
uma bárbara agressão pelas costas de um seu adversário.
A bonita reacção do jogador brasileiro
David Luís, autor de um golo para a história, consolando afectuosamente James
Rodrigues que chorava no fim do jogo, leva-me a contar-vos uma história que
justifica o título deste texto: difícil, difícil, é saber ganhar...
Vou utilizar as próprias palavras do
jornalista que muito prezo, Ferreira Fernandes, que ma contou no jornal Diário
de Noticias de ontem:
-
“Os Chilenos viram a bola de Pirilla bater com estrondo na trave e por um triz,
a segundos do final do prolongamento, não eliminar o Brasil.
Sobrenaturalmente a bola não entrou,
foi-se a penáltis e aos brasileiros, em vez de serem terra-a-terra por terem
ganho no substantivo e no concreto (marcaram matematicamente mais do que os
chilenos) deu-lhes o chilique.
Saíram do estádio vencedores e miseráveis,
a chorar.
Desde aí estamos nesta fase mariqui nhas das lágrimas. Chorinho, só música, caragos!
Um dos jogadores, William, diz no Globo
uma frase de auto ajuda:
- “Nenhuma dor é maior do que um sonho”.
Rapaz, o único desporto que precisa de
autoajuda é a Fórmula 1: sem a ajuda da Ferrari ou da Lotus, sem auto, nada a
fazer. Agora, desportistas de boa saúde e melhor conta bancária exporem, desta
forma, as suas fragilidades emocionais? ... Felipão, liberte o sargento que há
em você e ponha na ordem estes fanicos.
Isto não vai lá com frases tipo “Amor
é...”. No futebol, um antigo filósofo português já disse o que há para dizer:
“Atirem-se a eles como Tarzões”.
Um adepto ferrenho do clube da minha
terra gritava para um seu jogador após o árbitro ter apitado para o início da
partida: “Vai-te a ele, morde-lhe nas canelas!” ao que o jogador respondia: -
“Não posso, não tenho dentes”... – “Não faz mal, dá-lhe com as genjavas -
gritava o adepto entusiasmado.
E, já agora, deixem-me lembrar um
exemplo adequado quando se fala num Mundial no Brasil:
-
Estávamos em 1950, estádio do Maracanã, final Brasil / Uruguai jogo de vencedor
certo, os da casa. Quando o brasileiro Friaça fez o 1 a 0 confirmava-se o destino e
os uruguaios conformavam-se, apagou-se-lhes um bocadinho a luz dos olhos. Menos
no capitão, Obdúlio Varela.
Ele foi buscar a bola ao fundo das suas
redes e dirigiu-se ao árbitro como um homem zangado. Esticou a corda quase até
à expulsão. De repente, parou, já tinha visto que os seus se tinham recomposto.
O jogo recomeçou e sabe-se hoje que o
Uruguai ganhou por 2 a
1.
Isto é uma homenagem à frieza? Vocês não
entenderam nada. Obdulio não foi comemorar nessa noite com os seus. Andou pelos
botequi ns do Rio emprestando o ombro
aos brasileiros que choravam e não o reconheciam.
Voltou para Montevideu com o chapéu de
aba rebatida e gabardina de gola levantada – como um homem que ganhou a guerra
na terra dos outros e não se vangloriar.
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