OS VELHOS |
OS VELHOS
No meu país as pessoas reformadas, aposentadas, pensionistas, não podem trabalhar, gratuitamente que seja, voluntariamente ou a pedido, colocando ao serviço da comunidade o saber da sua experiência.
Se a Lei Nº 11/2014 de 6 de Março, diz aqui lo que diz, de tão irracional que é duvidar é o
que resta, então alguma coisa de grave se passa ao nível da nossa classe política,
porque esta Lei veio da Assembleia da República, passou por todos os trâmites
até à publicação no Diário da República.
Vou aqui
abrir uma hipótese de explicação: - Houve um cretino que a escreveu e por
distracção, comodismo, falta de tempo, etc... ninguém mais a leu até aparecer,
vitoriosa, à luz do dia.
E aí está, um cretino, bastou um, para negar aqui lo que foi um dos factores de sucesso, quase
sempre precário, da humanidade: o saber dos velhos, repositórios de experiências,
fontes de ensinamento, e não digo isto por já ser velho digo-o porque sempre,
especialmente na juventude, me senti seduzido pelos velhos.
Os cabelos brancos inspiravam-me respeito, as rugas
falavam de histórias de uma vida e o ar pensativo de palavras parcas
significavam sabedoria.
Eu já pertenço a outra geração, aquela que felizmente
teve acesso à educação e à cultura, - nem todos nessa época – mas o que eu
estudava nos livros era um saber diferente, faltava-lhe a profundidade e a
convicção do que os velhos me diziam, que já lhes tinha sido dito por outros
velhos e outros... e outros.
Hoje os velhos são um peso, um encargo, uma
inutilidade. Não fossem eles e o nosso Sistema de Saúde respirava boa vida... sobraria
dinheiro para pagar aos nossos credores.
Por isso, só resta, - prescindir dos velhos mais válidos é um luxo e um desperdício estúpidos mas não os mais graves - deixá-los morrer, sozinhos,
esquecidos, já sem família, como lixo deixado à porta das casas até
que alguém o leve por já não se lhes suportar o cheiro.
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