Eles vão ser os autores e personagens de uma história de amor. |
Por Que Nos
Apaixonamos?
Continuemos com o tema anterior sobre o por quê do amor romântico fazendo perguntas que foram já respondidas por Helen Fisher mas numa abordagem, digamos, mais romântica, menos científica.
- Por que nos
apaixonamos?
- Por que concentramos numa pessoa toda
a nossa atenção como se ela fosse a única no mundo?
- Por que suspiramos longa e
repetidamente quando estamos apaixonados?
- Por que ficamos possuídos de uma
enorme energia que nos permite andar a noite toda e conversar até ao amanhecer?
- Por que bate o nosso coração mais
depressa e nos suam as mãos quando estamos juntos da pessoa amada?
- Por que chegamos ao ponto de pôr
termo à vida por não sermos capazes de a enfrentar sem essa pessoa?
A primeira reposta para todas estas
perguntas que são apenas uma síntese de muitas outras que se poderiam colocar é
muito simples:
- Porque o amor faz parte da nossa
própria natureza, tanto quanto o medo ou a fome, e terá começado nos primórdios
da humanidade tendo evoluído da simples atracção sexual até ao amor romântico
que cativa e nos prende ao nosso parceiro sexual.
Se hoje é mais difícil criar um filho
sem a intervenção, a presença ou o apoio de um pai, como não teria sido no princípio
desta longa caminhada que a humanidade já trás percorrida, quando as mulheres
transportavam, em regiões perigosas, um filho nos braços e não nas costas como
os restantes primatas, com um corpo despido de cabelos onde ele não se podia
agarrar, e que tinha ainda, entre outras coisas, que procurar comida?
O amor romântico constituiu um factor
decisivo no triunfo da nossa espécie porque assegurou e deu consistência à
relação entre o pai e a mãe sem a qual os filhos dificilmente sobreviveriam e
explica porque o amor não dura para sempre… porque deixa de ser indispensável.
Nós gostaríamos de pensar que nos
apaixonámos para nosso deleite, que tudo teve a ver apenas com uns olhos negros
ou o requebre daquele corpo com o qual, um dia, nos cruzámos, que foi tudo apenas uma experiência feliz da nossa vida... obra do acaso.
Afinal, tudo se
inscreveu em teorias científicas que quebram o encantamento da relação e da
história do nosso amor.
Gostaríamos muito mais que o mistério
prevalecesse, que fôssemos não só os únicos como igualmente a razão de ser de
tão linda história de sentimentos que nada teve a ver com mais ninguém ou com o que
quer que fosse.
E, no entanto, tudo foi uma questão
de altos níveis de dopamina que são neurotransmissores que estimulam a
actividade do sistema nervoso central e à qual se juntou a feniletilamina e a
ocitocina, químicos que são normais no nosso corpo mas que se juntam num
determinado momento, para desencadearem a paixão.
Com o tempo, o
organismo torna-se resistente aos seus efeitos e a “loucura” passa... sem que
nunca tivéssemos chegado a saber os nomes dos verdadeiros responsáveis, de
resto, feios e difíceis de dizer.
Mas, sejam quais forem os processos
químicos, a relação amorosa continua a ter qualquer coisa de sublime, de
poético, que não se presta a comparações com uma simples atracção sexual porque
ninguém pensa obsessivamente numa mulher apenas por um desejo sexual momentâneo
que, satisfeito, rapidamente leva ao esquecimento da relação, nem se
circunscreve às inexoráveis explicações do ponto de vista científico por mais
correctas e exactas que elas sejam.
No primeiro momento,
mágico, a excitação é tão grande que o desejo da posse cede lugar ao da
contemplação e do enlevo... morrêssemos nós nesses instantes e iríamos felizes
para o outro mundo.
Amanhã mesmo, mais homens e mulheres
vão iniciar o deslumbrante e arriscado processo de amor e ao fazê-lo vão ter a
mais importante experiência das suas vidas.
É certo que essas
experiências se inscrevem numa longa lista de experiências, de tal forma longa
que o cérebro as interiorizou e tornaram-se, por essa razão, imperativas, mas
eles não sabem isso, tão pouco lhes interessa.
Eles vão ser autores e personagens de
uma história de amor que poderá muito bem ser a história da vida deles, aquela
que valerá a pena recordar quando a vida se for esfumando por entre o
emaranhado dos anos.
Talvez algum deles seja escritor e
não lhe baste apenas a sua história de amor… ou prefira criá-la na sua
imaginação em vez de a viver…ou a recrie para esquecer uma má história de amor.
Com o amor romântico, como lhe chamam
os estudiosos, tudo é possível de acontecer.
É verdade que a fé religiosa tem
aspectos em comum com o enamoramento e ambos têm muitas das características da
euforia induzida por uma droga viciante.
Uma faceta, das muitas faces da
religião, é o amor intenso centrado numa pessoa sobrenatural, isto é, em Deus,
acompanhado da veneração de ícones dessa pessoa e é grande o reforço positivo
que a religião presta através de sentimentos reconfortantes e calorosos por
sermos amados e protegidos num mundo perigoso, pela perda do medo da morte, do
auxílio vindo não se sabe de onde em resposta a preces em tempos difíceis, etc.
De igual modo, o amor romântico por
uma pessoa real apresenta a mesma concentração intensa no outro e também
reforços positivos pelos sentimentos que desencadeia com a ajuda igualmente de
ícones que, neste caso, poderão ser cartas, fotografias e até mesmo madeixas de
cabelo como era hábito no século XIX.
Podemos controlar o nosso
comportamento, não podemos controlar o sentimento do amor da mesma forma que
também não se consegue controlar a fome, a sede, ou o instinto maternal.
Se o meu amor me deixar eu posso
controlar o meu comportamento e não ir atrás dele, mas é impossível controlar
os meus sentimentos pela simples razão que sobre eles não tenho controle, só o
tempo poderá ajudar ou então, como diz o povo, sábio, procurando novo amor
porque, por vezes, “o mal do cão cura-se com o pelo do mesmo cão”.
Mas, vivendo muitos de nós rodeados
por tantas pessoas por que nos apaixonamos por uma e não por qualquer outra?
Mais uma vez a química parece ser a
chave das atracções entre as pessoas que, em princípio, se sentirão atraídas
para aquelas que têm um perfil químico complementar do seu de forma a equi librarem-se.
Por exemplo, pessoas com altos níveis
de serotonia tendem a ser mais calmas enquanto as de altos níveis de dopamina
são mais agitadas e esta circunstância poderá constituir um factor de atracção
entre ambas para, de certa forma, se equi librarem
ou complementarem.
Certo, certo, é que os homens se
apaixonam mais fácil e rapidamente que as mulheres e de 4 pessoas que se matam
por não suportarem o fim da relação, 3 são homens.
Julga-se que as mulheres são mais
apaixonadas mas os estudos revelam que os mecanismos são muito parecidos,
embora o estímulo visual seja mais activo no homem do que nas mulheres talvez
porque, nas eras do antigamente, os homens tinham que olhar para as mulheres
para tentarem perceber as que tinham condições de lhes dar filhos saudáveis.
Em contrapartida, as mulheres, vá lá
saber-se porquê, revelam uma melhor memória recordando mais facilmente um
relacionamento.
De qualquer maneira, o amor é
imparável e se lhe é colocado qualquer tipo de barreira o resultado será
intensificá-lo ainda mais.
Num estudo efectuado com 32 pessoas
loucamente apaixonadas o que os cientistas observaram é que quando uma delas
olha a fotografia da pessoa amada a parte do cérebro que se torna activa fica
bem no interior do órgão pelo que se pode concluir que se trata de um sistema
antigo e primitivo.
Os cientistas envolvidos neste estudo
acreditam que, ligados ao tema do amor, temos três sistemas cerebrais
diferentes:
- O primeiro trata do impulso sexual;
- O segundo do amor romântico, um
estágio intenso de sentimentos obsessivos associados ao parceiro;
- Um terceiro que tem a ver com a
sensação de segurança que se sente quando vivemos com alguém por muito tempo.
Posto isto, parece que o amor
romântico não é uma emoção mas várias emoções e acontece para que a pessoa
apaixonada concentre a sua energia numa única para um compromisso que dure,
pelo menos, o tempo suficiente para criar um filho.
Pesqui sas
efectuadas junto de 5000 pessoas de 37 culturas diferentes permitiram concluir
que o amor tem um «tempo de vida» entre 18 a 30 meses, o suficiente para que o casal se
conheça, copule e produza uma criança.
Apesar de todas as pesqui sas e descobertas, anda no ar uma sensação de que
a evolução, há cerca de 10.000 anos a esta parte, por algum motivo, modificou
nossos genes permitindo que surgisse o amor não ligado à procriação.
Finalmente, de então para cá, o amor
entre homens e mulheres pôde acontecer e algumas delas puderam passar a olhar
os homens como algo mais do que máqui nas
de protecção o que é notório nestes últimos tempos, entre nós.
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