E via logo que tinham sido casas construídas no eterno. |
MONSARAZ
Eu já visitei
Monsaraz, todos os portugueses, lá mais para o fim das suas vidas, antes de morrerem, deviam
visitar Monsaraz para se reencontrarem com as suas origens, e conhecerem aquele
parente afastado que esteve na origem da gente e que de velho se esqueceu de
morrer.
Dá a sensação que
sempre ali esteve, desde que o primeiro homem subiu lá acima e percebeu que
nunca mais poderia abandonar aquele lugar, altaneiro, no cimo de uma colina que
se levanta da planície alentejana para a guardar, a ela, ao rio Guadiana e à
fronteira com Castela.
Foi uma das finalistas
das 7 maravilhas de Portugal e passará a ser também uma das maravilhas de cada
um de nós que a visitar porque a vida não começou na rua da cidade onde
vivemos, nem pára no semáforo vermelho do cruzamento, nem dá a volta a uma das
muitas rotundas que a compõem, não, a vida começou ali quando andávamos a
deambular pela planície, cá em baixo, e um dia, dois de nós decidiram ir
espreitar lá a cima e aquela vista os conqui stou
para sempre.
Nós somos pequeninos,
mesmo em bicos dos pés ou em cima de uma pedra continuamos a ser pequeninos mas
se formos a Monsaraz e olharmos as vistas em todo o seu redor, se estendermos o
olhar do cimo daquelas muralhas para todo aquele horizonte, então, sentimo-nos finalmente grandes e a sensação de ser grande confere poder e nada agrada mais
ao homem do que o poder.
Por isso, quando o
primeiro homem se atreveu a subir lá a cima, correndo o risco de se encontrar com
fadas e duendes e tendo olhado tudo à volta se sentiu grande e
poderoso disse ao companheiro:
- "Vai lá abaixo e chama os outros para aqui onde somos grandes e poderosos. Aqui vamos ficar e temos que nos defender, construir
muralhas porque os outros homens pequeninos que passam lá em baixo também nos
quererão disputar este lugar para serem grandes como a gente, sentinelas como
nós!" – E assim falou! E assim nasceu Monsaraz.
Leiam o que sobre
Monsaraz escreveu o grande Virgílio Ferreira
A Aldeia Mais Antiga
de Portugal
Toda a aldeia era feita de um tempo antigo: nas casas, nas ruas,
nos usos e costumes.
Mesmo nos corpos dos aldeões, no jeito especial de os utilizarem,
tinham também um toque rude e primitivo. O modo de andar, por exemplo, era
desengonçado e langão, como se levassem às costas a sua carga de séculos mas
era sobretudo nas casas que o peso do tempo mais se sentia. A gente olhava-as e
via logo que tinham sido casas construídas no eterno.
Virgílio Ferreira
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