segunda-feira, agosto 18, 2014

E via logo que tinham sido casas construídas no eterno.
MONSARAZ













Eu já visitei Monsaraz, todos os portugueses, lá mais para o fim das suas vidas, antes de morrerem, deviam visitar Monsaraz para se reencontrarem com as suas origens, e conhecerem aquele parente afastado que esteve na origem da gente e que de velho se esqueceu de morrer.

Dá a sensação que sempre ali esteve, desde que o primeiro homem subiu lá acima e percebeu que nunca mais poderia abandonar aquele lugar, altaneiro, no cimo de uma colina que se levanta da planície alentejana para a guardar, a ela, ao rio Guadiana e à fronteira com Castela.

Foi uma das finalistas das 7 maravilhas de Portugal e passará a ser também uma das maravilhas de cada um de nós que a visitar porque a vida não começou na rua da cidade onde vivemos, nem pára no semáforo vermelho do cruzamento, nem dá a volta a uma das muitas rotundas que a compõem, não, a vida começou ali quando andávamos a deambular pela planície, cá em baixo, e um dia, dois de nós decidiram ir espreitar lá a cima e aquela vista os conquistou para sempre.

Nós somos pequeninos, mesmo em bicos dos pés ou em cima de uma pedra continuamos a ser pequeninos mas se formos a Monsaraz e olharmos as vistas em todo o seu redor, se estendermos o olhar do cimo daquelas muralhas para todo aquele horizonte, então, sentimo-nos finalmente grandes e a sensação de ser grande confere poder e nada agrada mais ao homem do que o poder.

Por isso, quando o primeiro homem se atreveu a subir lá a cima, correndo o risco de se encontrar com fadas e duendes e tendo olhado tudo à volta se sentiu grande e poderoso disse ao companheiro: 

 - "Vai lá abaixo e chama os outros para aqui onde somos grandes e poderosos. Aqui vamos ficar e temos que nos defender, construir muralhas porque os outros homens pequeninos que passam lá em baixo também nos quererão disputar este lugar para serem grandes como a gente, sentinelas como nós!" – E assim falou! E assim nasceu Monsaraz.


Leiam o que sobre Monsaraz escreveu o grande Virgílio Ferreira


A Aldeia Mais Antiga de Portugal

Toda a aldeia era feita de um tempo antigo: nas casas, nas ruas, nos usos e costumes.
Mesmo nos corpos dos aldeões, no jeito especial de os utilizarem, tinham também um toque rude e primitivo. O modo de andar, por exemplo, era desengonçado e langão, como se levassem às costas a sua carga de séculos mas era sobretudo nas casas que o peso do tempo mais se sentia. A gente olhava-as e via logo que tinham sido casas construídas no eterno.

Virgílio Ferreira



Site Meter