Os negros, em matéria de cama, são absolutamente insuperáveis |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 28
Também a voz de Rufina se diluía em gozo
ao vê-lo na copa, todo verde-amarelo com toques vermelhos nas mangas bufantes, suspirava:
-
Tição Aceso, ai meu Tição! Corpo digno
do capricho de opulento senhor de engenho ou de cónego reverendo e magnânimo, pernas
nuas, ombros nus, seios túrgidos, cor de melaço, uma opulência,
entremostrando-se no decote da bata de algodão, não como descaro mas a medo.
Rabistel de popa de saveiro, navegava em
maré alta, pavoneando-se nas fuças de Castor, tição de fogo que lhe acendia
labaredas nas entranhas.
Castor sentia-se pouco à vontade na
libré de mucamo, de criado de servir, costurada sob as vistas de Madama que a
copiara de um livro de figuras. Preferia o trapo passado entre as pernas, amarrado
na cintura e o calor da forja na oficina do tio Cristóvão Abduim, seu único
parente.
A
Baronesa o retirara da bigorna para transformar o aprendiz de ferrador em
pajem, em palafreneiro, em favorito: servo não tem vontade nem alvitre.
Ainda assim, apesar da veste burlesca e da
condição doméstica de serviçal, Castor mantinha o porte altivo, o riso perene e
contagiante.
Inconsequente juventude, tição aceso ou
prince noir, fazia Rufina perder a cabeça, disposta a
enfrentar as piores consequências, levava Madama ao frenesi.
2
Da incomparável qualidade dos negros no
exercício de la bagatelle, Marie-Claude soubera por Madeleine Camus, née
Burnet, contemporânea de colégio, sua ainée.
No Sacré-Coeur, pulcras e
frascárias alunas das freiras, amies intimes, trocavam informações, projectos e
sonhos, conversavam religião e putaria, ansiosas à espera do dia da libertação.
Ao regressar de Guadalupe onde o marido,
tenente-coronel de artilharia, comandara a guarnição, Madeleine fizera duas
declarações peremptórias:
a) todos os tenentes-coronéis nascem com irrevogável
vocação para corno manso, nem a mais pateta das esposas pode impedir que
cumpram seu destino;
b) os negros, em matéria de cama, são
absolutamente insuperáveis. Não havia melhor prova da primeira afirmativa do
que o próprio esposo de Madeleine:
-
fora ele quem trouxera para casa, na qualidade de ordenança, o negro Dodum, exactamente
a melhor prova, a mais esplêndida, da segunda revelação.
Proclamada baronesa e senhora de engenho
devido ao feliz matrimónio com nobre mais ou menos
colonial, mais ou menos mestiço e riquíssimo — em relação à fortuna não havia
mais ou menos e, sim, mais e mais - Marie-Claude viajou para os trópicos distantes
e misteriosos onde estava situado seu reino doce e verde de cana-de-açúcar e
servos negros.
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