quinta-feira, agosto 14, 2014

Em Jesus não há grego nem judeu, nem servo nem livre...
Um Relato

Muito

Escandaloso












Eu sou, tal como Richard Dawkins, ateu militante, um dos maiores intelectuais vivo, um admirador de Jesus da Nazaré, um homem 2.000 anos avançado ao seu tempo pelas suas concepções da sociedade de então e de uma coragem e coerência que o tiraram da vida de uma forma violenta e precoce.

Às vezes confundiu e comprometeu os seus oficiais divulgadores como neste caso, na história da adúltera. 



A História da Adúltera


– O relato de Jesus e da adúltera só aparece em um dos quatro evangelhos, o de João e, mesmo neste, não em todos os manuscritos que contêm este Evangelho.

Alguns especialistas nesta matéria explicam esta supressão nos restantes Evangelhos porque a posição de Jesus perante a “pecadora”, a sua flexibilidade, o seu desafio à lei religiosa que ordenava o apedrejamento, foi considerada excessiva e até escandalosa para as primeiras comunidades judaico-cristãs, educadas numa cultura discriminadora das mulheres.



Em Cristo, Não Há Homem Nem Mulher


- A violência contra as mulheres tem as suas raízes mais profundas nas religiões patriarcais e o Judaísmo do tempo de Jesus era totalmente patriarcal. Por isso, a atitude de Jesus para com as mulheres resultaram num escândalo. Não esqueçamos que, etimologicamente, a palavra “escândalo” significa a “pedra em que se tropeça”.

No entanto, apesar dos tropeços e dos ensinamentos de Jesus baseados na igualdade entre os seres humanos e, portanto, entre homens e mulheres, essas desigualdades não puderam ser totalmente suprimidas.

Lembremo-nos que a força da tradição judaica era muito forte neste capítulo. Diariamente eles rezavam a seguinte oração: “Bendito sejas, Senhor, por me teres feito judeu e não gentio, por me teres feito livre e não escravo, por me fazeres homem e não mulher”

Mas Paulo, embora de formação judaica tradicional, proferiu a seguinte frase, dentro da linha de pensamento de Jesus e que, igualmente, provocou impacto naquele meio e naquele tempo: “Em Cristo não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há homem nem mulher, porque todos são iguais em Jesus Cristo” (Gálatas 3,26-28).


A Lapidação: Uma Tortura


- A lapidação ou apedrejamento é um método de execução muito antigo e constitui uma tortura porque é uma forma de morte lenta, as pedras deveriam ser pequenas, e cheia de sofrimento. O executado é amarrado e enterrado até à cintura para que não possa fugir.

O progressivo avanço da humanidade no que aos direitos humanos diz respeito, fizeram desaparecer das legislações esta tortura cruel. Na Sharia, Direito Islâmico, existem delitos sexuais, como o adultério das mulheres, que ainda hoje se castigam com a lapidação das mulheres como no tempo de Jesus. Segundo a Amnistia Internacional conhecem-se casos na Nigéria (2006) e outros no Afeganistão, no Irão, e Iraque. Leiam, a propósito deste tema, a obra da escritora marroquina Fátima Mernisi “O Harém no Ocidente”.

Actualmente, o cristianismo continua a descriminar as mulheres. Para se perceber essa descriminação na Igreja Católica, o Papa Bento XVI, em 2004, então Cardeal Ratzinger, na qualidade de Perfeito da Doutrina e da Fé, sob o pertencioso título “Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre a colaboração do homem e da mulher na igreja e no mundo” dizia o seguinte referindo-se à mulher:

- “É ela que, nas situações mais desesperadas, possui uma capacidade única para resistir às adversidades de tornar a vida, todavia, possível, incluindo em situações extremas, conservando um tenaz sentido do futuro e, por último, de recordar com lágrimas o preço de dar a vida humana.”

Como se vê, nem uma palavra ou uma linha de reflexão ou condenação à violência contra as mulheres, um tema que é hoje objecto de preocupação, debate, investigação e acção em todo o mundo. Em vez disso, o actual Papa ressalta o papel da mulher na sociedade actual como suporte do sofrimento à custa da sua própria vida e de aguentar sem desesperar… ou seja, as mulheres devem continuar a suportar em silêncio a violência contra elas. Em vez de denunciar, devem aguentar, em vez de libertarem-se, devem ter paciência.


Jesus Filho do Seu Tempo


- Como todos os seres humanos, Jesus foi filho do seu tempo e do seu meio. O seu país estava, então, submerso numa cultura e costumes patriarcais profundamente discriminatórios das mulheres e uma das suas grandes originalidades, de todas a maior, foi a de revoltar-se contra essa cultura que ofendia a sua sensibilidade e sentido de justiça.

Jesus foi filho do seu tempo mas adiantou-se a ele, criou um tempo novo. Ser filho de um tempo é nascer numa sociedade que adoptou comportamentos, forjou leis e costumes que moldam as pessoas e como que as anestesiam.

Jesus despertou dessa anestesia quando disse: “a violência contra as mulheres é a violência contra Deus”. Estava, com esta afirmação, a romper com uma cultura, a iniciar a mudança para uma nova cultura, invocando a vontade de Deus, é verdade, mas sem beliscar a sua enorme coragem e coerência para com uma ética e princípios de justiça que lhe custaram a vida.

Pensou melhor e diferente de todos os homens do seu tempo. Por isso foi morto, mas terá dado o maior contributo de todos os contributos para uma humanidade mais justa e humana.

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