Pelo menos parece. |
O Óbvio
Quando Humberto Delgado, em 1958, se
candidatou a Presidente da República contra Américo Tomás, escolhido por
Salazar, o que era óbvio no país é que fosse este a mandar.
Por isso, causou grande escândalo a
resposta do General a um jornalista que lhe perguntou:
-
Sr. General, se ganhar as eleições o que faz ao Prof. Salazar?
- Como é óbvio, demito-o.
A nação, chocada, ficou a conhecer a
partir daí uma palavra, reservada até então a eruditos e que apareceu no outro
dia no cabeçalho dos jornais em letras garrafais: óbvio.
Depois, caiu no goto e de palavra quase
secreta e desconhecida passou à vulgaridade e hoje, 56 anos mais tarde, não há
cão e gato para quem tudo não seja óbvio.
Cada um tem para si coisas que são
óbvias. Até se poderia dizer:
-
Diz-me o que para ti é óbvio e eu dir-te-ei quem és.
Se eu disser que para mim é obvio que
Deus não existe e que é igualmente óbvio que António Costa é muito melhor
político do que António José Seguro, estarei a revelar muito do que sou como
pessoa.
Mas se eu disser ainda que aceito
perfeitamente que estes meus dois óbvios não o sejam para outras pessoas,
estarei ainda a revelar mais sobre mim.
Mas, continuando nestes dois meus
óbvios, se eu disser que estou muito triste por eles não serem partilhados por
todas as pessoas, de óbvios que são, continuarei a revelar mais coisas sobre
mim.
Em suma, é óbvio que gostaria que o
mundo tivesse os mesmos óbvios que eu porque, se assim fosse, seria obviamente
muito melhor do que é.
Mas permitam que eu me confesse: de
todos estes óbvios nenhum como o primeiro do General Sem Medo:
- Como é óbvio, demito-o.
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