Estamos a Dançar
Diferentes
Tanto quanto
sabemos, baseando-nos na informação de que dispomos actualmente, os nossos
antepassados saíram de África, ou permaneceram, no caso dos africanos, há
aproximadamente setenta mil anos e espalharam-se pelo planeta, tendo chegado à
Austrália há aproximadamente sessenta mil anos e às Américas há cerca de trinta
mil.
Podemos agradecer à inteligência esta
expansão, pois ela exigiu a solução para diversos problemas a uma grande
escala.
Para onde quer que fôssemos, descobríamos
como extrair comida do ambiente, até estarmos a comer tudo, desde sementes até
baleias.
Em seguida descobrimos como produzir
os nossos próprios alimentos, não uma mas numerosas vezes em várias regiões do
planeta, como Jared Diamond relatou no seu livro mais conhecido: “Guns, Germs
and Steel”, 1997, vencedor do Prémio Pulitzer. (Jared Diamond é actualmente
professor de Geografia e Ciências da Saúde Ambiental na Universidade da
Califórnia, Los Angeles).
Em cada população humana, a lenta
sabedoria da selecção natural seguia para onde a rápida sabedoria da
inteligência a conduzia.
Em civilizações que criavam gado,
pela primeira vez na história dos mamíferos, o leite transformou-se um recurso
para adultos. A princípio era difícil de digerir porque o corpo dos mamíferos
está adaptado para encerrar o sistema digestivo dos bebés (plano A) e dar
início ao sistema digestivo dos adultos (plano B) na altura do desmame.
Pôr os micróbios a fazerem a digestão
fermentando o leite proporcionou uma solução de curto prazo. Mutações genéticas
ocorridas então permitiram aos seres humanos adultos digerirem-no o que
constituiu uma vantagem suficiente para se tornarem comuns em populações
criadoras de gado.
Na década de 1950, os programas
americanos de ajuda ao estrangeiro passaram a incluir leite em pó para todo o
mundo, produzindo flatulência generalizada em regiões onde as pessoas não estão
geneticamente adaptadas a digerirem leite em adultos.
Outras populações humanas começaram
da mesma maneira a tornarem-se geneticamente adaptadas às suas dietas
particulares.
Milhares de anos são tempo suficiente
para permitir este tipo de diversificação genética. Lentamente, cada uma das
diferentes populações humanas, começou a realizar os passos de dança certos
para o seu ambiente, passos estes que podem ser estragados com as migrações em
massa ou com as alterações ambientais.
Então, voltaremos a assistir ao sonho
irreal em que os dançarinos, volteando no salão de baile, dançam com fantasmas
até mergulharem, inexoravelmente, no abismo.
"Evolução Para
Todos" de David Sloan Wilson
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