sexta-feira, setembro 26, 2014

Que gosto teria o xibu de uma cigana?
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)





Episódio Nº 61















Em Ilhéus certas raparigas, no costume das pingas, iam com dois ou três ao mesmo tempo, mas Jacinta, nem quando em mocinha exercera nas pensões de luxo da cidade, se dera a tais depravações: não havia dinheiro que pagasse.

Após terem emborcado umas lambadas na bodega de Fadul para compensar a decepção, os quatro desinfelizes, vendo o fogo aceso no descampado, pararam para um dedo de prosa e assim puderam confirmar o anúncio feito pelo pardo Pergentino da catástrofe que se abatera sobre Tocaia Grande:

 - Eles que digam se tou mentindo.

Valério Cachorrão exaltou-se, voltou a arrotar ameaças no bafo da cachaça: vamos resgatar as putas e mostrar a esse bando de renegados que vagabundo algum pode abusar impunemente de cidadãos que ganham a vida com o suor do rosto, tocando burros, abatendo árvores, lavrando aterra.

Que gosto teria o xibiu de uma cigana?

O alugado e os mateiros declinaram do convite: se não se apressassem perderiam o dia de trabalho. Voz isolada, Maninho desaconselhou a baderna, perdeu cuspo e latim, não lhe deram ouvidos.

Valério Cachorão, Dorindo e Pergentino, três colhudos, decidiram atravessar o rio e dar uma lição à corja dos ciganos, Maninho, foi com eles para o que desse e viesse.

Dudu Tramela não tomou parte na diligência, ainda não portava armas além de um toco de facão. Maninho cochichou-lhe um recado para seu Fadu: avise a ele do fuzuê que está se armando.

Vá ligeiro antes que se dê uma desgraça.

Andando para o rio, Maninho estranhou o silêncio: os sapos haviam suspendido sua rouca cantilena. Na noite embruxada, nos caminhos do luar, sob o céu de estrelas, onde andavam os sapos cururus? Tinham sumido, eles também, junto com as putas.

14

Maninho atravessou o rio preparado para o pior: mais uma vez ia presenciar a iníqua violência. Iníqua e inútil, sabia de sobejo, aprendera nos caminhos do cacau, tangendo comboios.

 No passado, perdera outro ajudante num fortuito bafafá: ao contrário de Valério Cachorrão, Zé da Lia era pacato, bom sujeito; o caso se deu por uma moeda de tostão.
De Valério Cachorrão pouco temia: farofeiro e, ainda por
cima, estando bêbado, não representaria perigo se não conduzisse na cintura um pau-de-fogo, garrucha de carregar pela boca, fora de uso, capaz todavia de matar.

Cachorrão a ganhara apostando no jogo de ronda ali mesmo em Tocaia Grande, meses atrás, não a largara mais.

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