Que gosto teria o xibu de uma cigana? |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 61
Em Ilhéus certas raparigas, no costume
das pingas, iam com dois ou três ao mesmo tempo, mas Jacinta, nem quando em
mocinha exercera nas pensões de luxo da cidade, se dera a tais depravações: não
havia dinheiro que pagasse.
Após terem emborcado umas lambadas na
bodega de Fadul para compensar a decepção, os quatro desinfelizes, vendo o fogo
aceso no descampado, pararam para um dedo de prosa e assim puderam confirmar o
anúncio feito pelo pardo Pergentino da catástrofe que se abatera sobre Tocaia
Grande:
-
Eles que digam se tou mentindo.
Valério Cachorrão exaltou-se, voltou a
arrotar ameaças no bafo da cachaça: vamos resgatar as putas e mostrar a esse
bando de renegados que vagabundo algum pode abusar impunemente de cidadãos que
ganham a vida com o suor do rosto, tocando burros, abatendo árvores, lavrando
aterra.
Que gosto teria o xibiu de uma cigana?
O alugado e os mateiros declinaram do
convite: se não se apressassem perderiam o dia de trabalho. Voz isolada,
Maninho desaconselhou a baderna, perdeu cuspo e latim, não lhe deram ouvidos.
Valério Cachorão, Dorindo e Pergentino,
três colhudos, decidiram atravessar o rio e dar uma lição à corja dos ciganos, Maninho,
foi com eles para o que desse e viesse.
Dudu Tramela não tomou parte na
diligência, ainda não portava armas além de um toco de facão. Maninho
cochichou-lhe um recado para seu Fadu: avise a ele do fuzuê que está se
armando.
Vá ligeiro antes que se dê uma desgraça.
Andando para o rio, Maninho estranhou o
silêncio: os sapos haviam suspendido sua rouca cantilena. Na noite embruxada,
nos caminhos do luar, sob o céu de estrelas, onde andavam os sapos cururus?
Tinham sumido, eles também, junto com as putas.
14
Maninho atravessou o rio preparado para
o pior: mais uma vez ia presenciar a iníqua violência. Iníqua e inútil, sabia
de sobejo, aprendera nos caminhos do cacau, tangendo comboios.
No passado, perdera outro ajudante num
fortuito bafafá: ao contrário de Valério Cachorrão, Zé da Lia era pacato, bom
sujeito; o caso se deu por uma moeda de tostão.
De Valério Cachorrão pouco temia: farofeiro
e, ainda por
cima, estando bêbado, não representaria
perigo se não conduzisse na cintura um pau-de-fogo, garrucha de carregar pela
boca, fora de uso, capaz todavia de matar.
Cachorrão a ganhara apostando no jogo de
ronda ali mesmo em
Tocaia Grande , meses atrás, não a largara mais.
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