quinta-feira, outubro 02, 2014

António Costa

o “Salvador da Pátria”














Era inevitável. Uma das formas mais certeiras de denegrir a vitória de Costa seria precisamente de o alcunhar de “salvador da pátria”.

Costa falou contra a austeridade e não prometeu nada, acusaram-no até por causa disso, como todos estamos lembrados, no entanto é já o “salvador da pátria” e sabem por quê? – Apenas porque trás consigo uma mensagem de esperança de que o país está tão carecido.

A política, tal como a economia, fazem-se muito de expectativas e de estados de espírito, de tal forma que hoje já existem “medidores” de esperança, índices de confiança e até de felicidade.

A euforia é a esperança levada ao extremo, uma espécie do seu fundamentalismo, infelizmente agora tanto em voga e, por isso, é mais destrutivo do que construtivo.

As pedras do caminho não se mexem rigorosamente nada só pela forma como as olhamos o que não significa que esse olhar não seja importante para as ultrapassar. Ou partimos já vencidos ou esperançados e esta diferença de olhar pode mudar muita coisa.

A situação de falência a que chegámos em 2011, a chegada da troika a nossa pedido para negociarmos o empréstimo, os sacrifícios que nos foram impostos como contrapartida, a forma entusiástica como este governo cavalgou esses sacrifícios defendendo-os não como uma inevitabilidade mas como castigo justo e certo para os cidadãos responsáveis pela situação a que tínhamos chegado...

Foi terrível para o nosso amor-próprio, dignidade, doeu-nos no corpo e na alma e esses sentimentos ficaram bem expressos na manifestação silenciosa, a maior depois do 25 de Abril, fez agora 2 anos, em resposta à TSU (taxa Social Única).

Esta foi uma manifestação séria, num país sério, de gente que decidiu mostrar, de forma séria, que está seriamente descontente com o que se está a passar. Do meu ponto de vista privilegiado, vi gente sobretudo da classe média urbana com muita vontade de dizer o que pensa, com muita vontade de exercer a pluralidade democrática, com muita vontade de fazer-se ouvir... mas com muito poucas forças para gritar. Gente de classe média, repito. Que lutou pela sua vida e, nessa luta, pelo progresso do país. Gente que trabalhou para um futuro melhor e agora está a vê-lo cada vez mais inseguro. Gente que foi até à Praça de Espanha e depois voltou para trás, dever cumprido, missão atingida. Gente de paz. Gente sem mais nenhuma ideologia que não fosse a do viver do dia-a-dia - e já é tanto.” ( Disse-o, à data, Catarina de Carvalho, na sua crónica no Notícias Magazine.)

A humilhação e o desprezo foram as marcas daqueles dias porque os sacrifícios que nos impunham foram sentidos como castigo injusto e aviltante, e isso ninguém compreendeu.

Passados dois anos, Costa, vence as eleições no Partido Socialista, ataca a austeridade, não promete nada e é acusado por isso e os mesmos que o acusavam chamam-lhe agora de “salvador da pátria”.

- Por quê? – Porque transporta uma mensagem de esperança e matar a esperança é o desígnio escondido dos que vivem à custa da má sorte dos outros e lhes recusam o direito a acreditarem no futuro.

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