o “Salvador da Pátria”
Era inevitável. Uma das formas mais certeiras de denegrir a vitória de Costa seria precisamente de o alcunhar de “salvador da pátria”.
Costa falou contra a austeridade e não prometeu nada, acusaram-no
até por causa disso, como todos estamos lembrados, no entanto é já o “salvador
da pátria” e sabem por quê? – Apenas porque trás consigo uma mensagem de
esperança de que o país está tão carecido.
A política, tal como a economia, fazem-se muito de expectativas
e de estados de espírito, de tal forma que hoje já existem “medidores” de
esperança, índices de confiança e até de felicidade.
A euforia é a esperança levada ao extremo, uma espécie do seu fundamentalismo,
infelizmente agora tanto em voga e, por isso, é mais destrutivo do que
construtivo.
As pedras do caminho não se mexem rigorosamente nada só pela
forma como as olhamos o que não significa que esse olhar não seja importante
para as ultrapassar. Ou partimos já vencidos ou esperançados e esta diferença
de olhar pode mudar muita coisa.
A situação de falência a que chegámos em 2011, a chegada da troika a
nossa pedido para negociarmos o empréstimo, os sacrifícios que nos foram
impostos como contrapartida, a forma entusiástica como este governo cavalgou
esses sacrifícios defendendo-os não como uma inevitabilidade mas como castigo
justo e certo para os cidadãos responsáveis pela situação a que tínhamos
chegado...
Foi terrível para o nosso amor-próprio, dignidade, doeu-nos no
corpo e na alma e esses sentimentos ficaram bem expressos na manifestação
silenciosa, a maior depois do 25 de Abril, fez agora 2 anos, em resposta à TSU
(taxa Social Única).
“Esta foi uma
manifestação séria, num país sério, de gente que decidiu mostrar, de forma
séria, que está seriamente descontente com o que se está a passar. Do meu ponto
de vista privilegiado, vi gente sobretudo da classe média urbana com muita
vontade de dizer o que pensa, com muita vontade de exercer a
pluralidade democrática, com muita vontade de fazer-se ouvir... mas com muito
poucas forças para gritar. Gente de classe média, repito. Que lutou pela sua
vida e, nessa luta, pelo progresso do país. Gente que trabalhou para um futuro
melhor e agora está a vê-lo cada vez mais inseguro. Gente que foi até à Praça
de Espanha e depois voltou para trás, dever cumprido, missão atingida. Gente de
paz. Gente sem mais nenhuma ideologia que não fosse a do viver do dia-a-dia - e
já é tanto.” ( Disse-o, à data, Catarina de Carvalho, na sua crónica no
Notícias Magazine.)
A humilhação e o
desprezo foram as marcas daqueles dias porque os sacrifícios que nos impunham
foram sentidos como castigo injusto e aviltante, e isso ninguém compreendeu.
Passados dois anos, Costa, vence as eleições
no Partido Socialista, ataca a austeridade, não promete nada e é acusado por
isso e os mesmos que o acusavam chamam-lhe agora de “salvador da pátria”.
- Por quê? – Porque transporta
uma mensagem de esperança e matar a esperança é o desígnio escondido dos que
vivem à custa da má sorte dos outros e lhes recusam o direito a acreditarem no
futuro.
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