Sente aí e converse com Fadul. |
TOCAIA
GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio
Nº 80
- Devota e trabalhadora, obediente.
Não tendo se referido à beleza, Fadul
levou um choque
quando a viu entrar na sala. Jamil fez
as apresentações:
-
Essa é minha filha Aruza, amigo Fadul.
Fadul estendeu a mão enorme, sorriu com
cortesia. Álvaro Faria tinha razão: Aruza era realmente deslumbrante.
Cabelos cacheados, boca carnosa, olhos
rasgados, cintura fina, seios fartos na blusa branca, ancas fortes na saia
azul.
Pouco sensível a corpos franzinos e
esguios, a talhes delicados, Fadul viu-se diante da personificação de seu
conceito de beleza.
Felizardo quem com ela se casasse. Jamil
completou a apresentação:
-
Esse é meu amigo Fadul Abdala de quem lhe falei. Aruza concedeu-lhe apenas uma
rápida mirada, a voz quase inaudível:
- Prazer.
Linda demais, não haveria em Ilhéus moça
mais bonita. Fadul
buscou na cabeça termo justo para
defini-la, foi encontrá-lo
no Alcorão: begume. Begume, princesa muçulmana.
4
Terminada a janta, após arrotar com
satisfação, Jamil convidou os comensais a tomar o cafezinho na sala de visitas,
aberta para a ocasião. Para lá se dirigiram.
-
Onde vai, Aruza?
Aruza se esgueirava corredor afora.
Parou e respondeu sem
olhar para o pai:
-
Vou até à casa de Belinha, volto daqui
a pouco.
-
Não vai não senhora. Temos convidados, seu lugar é aqui .
Aruza arrepiou caminho, veio sentar-se.
Recolhidas as xícaras do café, Jamil ordenou à filha:
-
Abra o piano e toque umas músicas para os amigos ouvirem.
Resignada, a moça obedeceu. Começou com
“La Prima Carezza ”.
Álvaro Faria bateu palmas, ar de êxtase,
em verdade estava
empanzinado. Seguiram-se “Sobre as
Ondas” e “Pour Elise”.
Aruza qui s
dar o concerto por concluído mas Jamil exigiu:
-
E a minha? Não vai tocar?
Assumiu o piano novamente, atacou a
“Marcha Turca”, foi geral o entusiasmo. Ao terminar, enquanto Fadul e Álvaro
aplaudiam, a moça levantou-se, dirigiu-se ao pai:
— Posso ir agora?
Obstinada, reflectiu Fadul sentindo a
tensão crescer na sala.
A voz de Jamil deixou transparecer uma
ponta de cólera apesar do sorriso sob os bigodões:
-
Nem agora nem depois. Sente aí e converse com Fadul.
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