quinta-feira, novembro 20, 2014

A demagogia alimenta-se a ela própria
“Ao pensionista 

enfurecido”










Foi nestes termos que João César das Neves se dirigiu ontem aos pensionistas no seu artigo de Opinião no Diário de Notícias.

João César das Neves é Professor Universitário de Economia e tem duas damas pelas quais se bate arduamente: uma é a religião, os dogmas, a igreja, os padres e tudo quanto a eles está associado.

Interroga-se como e porquê a elite das pessoas intelectualmente mais válidas podem ser, na sua grande maioria, ateus e de que forma e por que razão os países mais atrasados, cultural, social e economicamente, são os de maior fervor religioso, sem conseguir perceber o que está mal na religião.

A outra “dama” é o rigor das contas públicas, o equilíbrio entre Receitas e Despesas o que bate perfeitamente certo com a sua formação académica.

O que ele nos diz em resumo é isto:

 - “Alguém fez mal o cálculo das pensões que foram atribuídas e são agora os mais jovens com os seus impostos que as estão a sustentar e já há muito tempo.”

Por outras palavras: da mesma maneira que o marido promete coisas à mulher ou aos filhos para lhes agradar mas depois não as compra porque não tem dinheiro, assim os governos atribuíram pensões aos seus funcionários para as quais não têm disponibilidades.

Haveria alguma maneira de isto não ser assim?

 - Claro que havia mas tal não aconteceu. Desde que a sociedade tivesse, entretanto, produzido mais riqueza, com mais emprego, mais salários e contribuições para o Estado, este teria tido mais disponibilidades para suportar as Despesas entre as quais as dos pensionistas.

Nos últimos 3 anos cerca de 80.000 pessoas deixaram de trabalhar para o Estado e perto de 30.000 foram para a reforma sem serem substituídas. Isto significa que foram aliviadas as Despesas Públicas pelo não pagamento dos ordenados mas ao encargo com mais pensões não equivaleu a entrada de outras tantas contribuições para o respectivo Fundo, dado que não apareceram novos funcionários para o lugar daqueles que se reformaram.

Os governantes erraram, tomaram decisões com base em perspectivas optimistas, irrealistas, para agradarem, para conquistarem votos, e arranjaram problemas para o futuro.

Reformei-me no ano 2000, já lá vão 14 anos, e fiquei a receber mais dinheiro do que quando trabalhava, porque tinha menos impostos e descontos e na qualidade de reformado, estando em casa sem a obrigação de ir trabalhar, gastava menos. Era a reforma cor-de-rosa, catorze vezes por mês, ali, escarrapachado no Diário da República.

Esta situação excedeu todas as expectativas que eu tinha para a minha velhice tanto mais que os funcionários públicos durante muitos não foram bem pagos ou talvez o fossem em função da riqueza do Estado que era o nosso patrão.

A tecla em que João César das Neves bate é que a riqueza do Estado patrão não aumentou na mesma medida em que aumentaram os ordenados e as pensões.

É evidente que, no meio disto tudo, há muita conta que tem de ser feita e ele como estudioso e especialista deve tê-las feito. Eu, na qualidade de cidadão mais ou menos atento e informado, vivia mais de percepções, suspeitas, intuições e acompanhava, como todos, o dia-a-dia do país que se ia deteriorando, dívida a aumentar, até que começaram a aparecer os primeiros e inevitáveis cortes das pensões.

Estava psicologicamente preparado. Há muito que perguntava secretamente a mim próprio, quando recebia o montante da pensão: “até quando... até quando...”

É bom que os cidadãos tenham a percepção dos erros dos seus governantes porque são eles que vão sofrer as consequências sem que mais possam fazer para além de adaptarem-se a eles, especialmente quando já estão na velhice.

Como “não há bela sem senão”, a democracia presta-se a estas promessas e decisões demagógicas que são pagas no futuro e nós, portugueses, temos sido bem castigados por elas.

Escandalizaria o Dr. João César das Neves pela minha total falta de crença religiosa mas não posso deixar de concordar com ele em matéria de finanças.

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