sexta-feira, novembro 21, 2014

Casa de puta em rua de frente não dá
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)



Episódio Nº 104


















- Por que não botou um faz-as-vezes?

 - E quem haverá de ser?

- Pedro Cigano tá aí sem fazer nada...

- Se a venda fosse de mecê, mecê deixava na mão dele?

Sentiam falta do armazém. A vida se modificara, tornara-se mais fácil desde que Fadul se estabelecera em Tocaia Grande: escusado carregar mantimentos para o pernoite havendo ali o necessário.

Ademais, como o fazia nos tempos de mascate, Fadul costumava fiar - com garantia e pequeno ágio - quando o camarada voltava liso dos povoados ou das cidades, tendo deixado nas ruas de canto os derradeiros cobres.

 Os comentários findavam sempre na relembrança de ditos e feitos do turco embusteiro e ladravaz, mas finalmente um bom sujeito.

Terminavam indo ao encontro das mulheres da vida:

 - Vai ver, as meninas arresolveram trancar os balaios...

O número de raparigas variava, umas chegavam, outras partiam, puta não esquenta lugar. Fixas, uma meia dúzia, não mais, em aglomeradas palhoças defronte do rio, no extremo oposto do barracão no qual o coronel Robustiano Araújo depositava o cacau seco, pronto para ser entregue aos exportadores.

 Coroca, ao escolher o sítio para a casinhola cuja construção o capitão Natário da Fonseca empreitara recentemente com Bastião da Rosa e Lupiscínio, recusou erguê-la no Caminho dos Burros:

- Quero aqui mesmo... Casa de puta em rua de frente não dá certo. Rua de frente é para as casas de família.

Lupiscínio admirou-se:

 - Que família, dona Coroca?

Com o respeito devido aos mais velhos, tratava-a por dona e
mandava o filho e auxiliar de raspa-tábua, Zinho, um meninote, tomar-lhe a bênção.

 - Não demora, vancê vai ver.

 - Será deveras?

 - É melhor ficar logo aqui, perto dos sapos, do que mais tarde ser mandada embora. Hoje tudo é igual, não faz diferença, mas no doravante quem é que sabe?

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