Com que propósito o convidara... |
TOCAIA
GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio
Nº 88
2
Nos qui nze
dias que se seguiram ao encontro na feira de Taquaras, Jussara Ramos Rabat, viúva e
herdeira, perturbou as horas vagas de Fadul Abdala.
Que intenções ocultavam gestos e palavras,
a insistência dos olhares, o langor da voz?
Sob a blusa de laçarotes e adornos,
fechada no pescoço como determinam a modéstia e o pejo, debaixo
da saia de montaria ampla e longa, o turco ainda assim
adivinhava alentadas mamas, seios túmidos - bons de apalpar com as mãos como
apreciava - o requebro e a grandeza dos quadris, a planície do ventre cobreado e
a colina de musgo, boca do mundo temerosa e carente.
Despia Jussara da saia e da blusa, dos
inúmeros ornatos, demasia dos requi fifes,
e a via nua entre os animais no acorçôo da feira, nenhuma égua se lhe comparava
em porte e em galhardia.
Ela lhe apeteceu e ele a desejou com tamanha
intensidade a ponto de não conseguir possuí-la em sonhos, apesar de adormecer
com o pensamento posto nela, no dengue extremo, na bizarria insólita.
Pobre de mim, dissera e repetira Jussara
arrenegando sobre a viuvez e o comércio, dois problemas graves: que buscava com
aquela litania?
Com que propósito o convidara a visitá-la em
Itabuna?
Para oferecer-lhe emprego no balcão da
Casa Oriental, propondo-lhe talvez interesse nas vendas, pequena participação nos
lucros?
Trabalhar para os outros não o tentava,
preferia mourejar sem descanso no que era seu, durante as noites e madrugadas de
Tocaia Grande, sem ter a quem dar satisfação nem prestar contas.
Ou por acaso, sendo viúva e moderna,
procurava marido que se ocupasse dela e do comércio de tecidos?
Jovem, rica e tão formosa, deveria ter na
cidade de Itabuna, no porto de Ilhéus, levas de candidatos rastejando a seus
pés; por que haveria de sair atrás de um bodegueiro na feira de Taquaras em
meio a mulas e a jegues?
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home