terça-feira, novembro 25, 2014

Entre os mais temidos avultava Manezinho
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 107


















Apenas o araçoaba, frangote abelhudo e atrevido, foi se postar com o troca-pernas atrás do tronco de jaqueira de onde avistavam o armazém. A chuva se transformara em aguaceiro, nuvens encobriam o céu.

Tampouco Pedro Cigano, à quem Fadul tantas vezes matara a fome e ainda mais a sede, viera até o pé de pau no propósito de lhe ser de alguma utilidade: arriscava-se porque tinha uma intuição e desejava comprová-la.

Não seria para roubar feijão, cachaça, carne-seca, fumo de rolo que Manezinho, Chico Serra e Janjão estavam forçando as portas do negócio: Pedro Cigano acreditava saber qual fosse o motivo real.

Ao sarará apenas a curiosidade o conduzia desejo intenso de ver e aprender. Tangedor de burros novato no oficio, pela primeira vez deparava com um turno de bandoleiros cometendo tropelias: sua experiência reduzia-se a barulhos em puteiros, assuntos de somenos.

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Ao fim das lutas pela conquista das matas, quando os caxixes
substituíram as tocaias nos recentes conflitos entre os coronéis do cacau pela posse das áreas devolutas, sobraram jagunços pelas estradas indo e vindo sem rumo certo, oferecendo-se para matar a módico pagamento, matando de graça para roubar.

 Das centenas de cabras chegados ao sul do Estado da Bahia, provenientes do sertão de três Estados e das barrancas de tantos outros rios, armas e pontarias a serviço dos ricos fazendeiros, uns poucos haviam demarcado terras, plantado roças, passando a usar o pau-de-fogo somente em rigorosa conjuntura.

A maioria acomodou-se nas fazendas, chefes de turma de alugados, capangas de confiança, capatazes. Alguns porém não se adaptaram às novas condições e cruzavam os caminhos praticando horrores, assombrando o povo.

Acabaram liquidados um a um mas durante longa temporada
foram muitos, de sinistra fama. Entre os mais temidos, avultava Manezinho: participara dos lendários combates travados entre Basílio de Oliveira e os Badarós. Capanga de Teodoro das Baraúnas, de negregada memória, não quisera servir nenhum outro coronel nem depor as armas.

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