sexta-feira, novembro 07, 2014

Fui a culpada. Não fugi a tempo.
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 92



















Não parou de incriminar-se enquanto o homenzarrão levantava-se da cama, fechava a porta e se despia: nu, crescia de tamanho, tornava-se ainda maior.

Da cama, estirada, olhava-o de soslaio, um marido e tanto!

Trabalhador e cobiçoso, presumido e tolo, igual a Kalil Rabat, bobo alegre nascido para cabresto e chifre. Com a vantagem de ser grandão, bem-parecido e possuir aquele pé-de-mesa.

Jussara chegava com as mãos cheias: o resplendor do rosto, a tentação do corpo, dinheiro a rodo, a mais sortida loja de tecidos de Itabuna, a insolência e o dengue, o fogaréu.

Que mais podia desejar um tabacudo bodegueiro confinado em remota caixa-pregos?

Não lhe parecendo ser aquela hora a mais apropriada para dialogar sobre a honra perdida da viúva e de como restaurá-la, o turco escutava em silêncio, impaciente, a magoada ladainha, interminável. Jussara não se calou sequer quando ele a libertou das botas, grata providência.

 Patética, assumiu a responsabilidade do fatídico descaminho:

 - Fui a culpada, não fugi a tempo. Não me importo, se acabou.

Antes que de repente ela decidisse dar por findo o pagode penas começado, Fadul estendeu-se ao lado da cabocla, com a mão disforme e delicada acariciou-lhe os seios, apertando-os de mansinho; cutucou-lhe a bunda e a beliscou de leve, correndo os dedos pelo rego.

Jussara estremeceu e suspirou, aninhou-se no peito veludoso, sentiu a borduna contra as coxas, prosseguiu entre desmaios:

 - Abusou de mim, eu deixei, agora pensa que sou uma perdida, como há de querer casar comigo?

  - Elevou a voz fazendo-a clara e precisa ao afirmar:

- Juro pela alma de minha mãe que foi a primeira vez que pequei em toda a minha vida.

 Nunca tive outro homem fora de meu marido. Perdi a cabeça, pobre de mim!

As pernas nuas se cruzaram, entreabriram-se as coxas de Jussara e a voz desfaleceu de novo:

 - Perdi minha honra... Estou em suas mãos...  - acariciou o rosto de Fadul, pôs mel na voz para confessar: ... mas nem assim me arrependo, homem malvado! Cegou meus olhos, me seduziu mas nem desonrada me arrependo - palavras boas de ouvir: inflamam o peito, inflamam o coração, incendeiam os quibas de um macho bom de cama.

Apesar da prudência com que costumava agir em assuntos assim relevantes e melindrosos, Fadul decidiu-se a prometer; para cumprir, quem sabe, depois de esclarecer e comprovar certos pormenores:

 - Não se importe: Vou por esses dias a Itabuna e lá a gente conversa e resolve. Não se preocupe com a loja.


Site Meter