Ai, me desgracei! |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 91
Sombrearam-se os olhos de Fadul, escuros de impaciência e de tesão. Sem sequer dar-se ao trabalho de fechar a porta, andou para Jussara e a tomou nos braços. Ela não se es
-
Tenha pena, não abuse de mim. Não vê que sou viúva e preciso me casar de novo?
Se eu perder a cabeça, depois como vai ser? Pobre de mim que não posso nem
mesmo querer bem...
Fadul não respondeu, guardou silêncio: a
conversa podia esperar, não ele. Estava tomado de fúria, os olhos ofuscados, sentindo
o corpo da cabocla estremecer. Arrancou-lhe a blusa, o corpinho - ah, os peitos
opulentos, bons de agarrar com as mãos
-
Jussara gemeu de leve. Fadul tirou-lhe a saia, as anáguas. Rasgou as rendas das
calças amarradas com laçarotes nos joelhos: também as calças eram negras.
Dobrou aquela realeza, aquele
despropósito de mulher, sobre o colchão de capim e percevejos, vestida apenas
com as altas botas de montar. Fadul não perdeu tempo em despir-se: desabotoou a
braguilha libertando a estrovenga que, de tão impaciente e rígida, doía. Cobriu
Jussara.
Desfez-se o coque no alto da cabeça da
cabocla, libertos soltaram-se os cabelos, lençol negro de cetim, cobrindo a
cama.
A
boca do mundo, húmida e gulosa, acolheu a borduna do cacique libanês, a folia
durou a tarde inteira.
4
-
Ai, o que foi que eu fiz, meu Deus, idiota que sou? Viúva sem juízo, vim por
marido e saio desonrada. Ai, pobre de mim!
Olhou em lágrimas para o turco estendido
sobre ela, esmagando-lhe os seios e as coxas, quando arfantes retornaram da primeira
travessia do deserto e do oceano.
Antes que ele lhe retirasse as botas, se
despisse e finalmente fechasse a porta. Jussara tinha fácil falar, acentuado
por um choro contrito, dorido queixume com que se acusava e se afligia:
- Agora que conseguiu o que qui s, pode escarnecer de mim, me desprezar, me
chamar de vagabunda, me tocar pra fora.
A culpa é minha, tava bem do meu em
Itabuna, o que é que vim fazer aqui ?
Me desgraçar, quando preciso de marido pra olhar por mim e pra tomar conta da
loja. Esconjuro o dia em que lhe vi em Taquaras e perdi o siso. Fiquei maluca,
bronca da cabeça, não mando mais em
mim. Não tive forças pra resistir, me desgracei. Ai, me
desgracei!
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