sábado, novembro 15, 2014

Mete medo, não mete? É para isso que ele existe.

















O vale de Gehenna rodeava a cidade de Jerusalém por oeste. Era aqui que se ofereciam sacrifícios humanos ao deus pagão Moloc fazendo com que os profetas maldissessem este vale.

Uns 2.000 anos A.C. era crença popular que ali estaria situado um inferno de fogo para os condenados pelas suas más acções e, por ser um lugar desacreditado e maldito, este vale foi destinado a um braseiro público dos lixos da cidade de Jerusalém.


Durante séculos, o povo de Israel não acreditava em nenhum inferno. Em vez dele, acreditava que quando a vida terminava no mundo visível, os mortos desciam ao “sheol”, que era um lugar situado nas profundezas da terra ou debaixo das águas, onde maus e bons se misturavam e desfaziam sem que estivessem sujeitos a prazeres ou a dores… simplesmente desfaziam-se.

Este “sheol” é mencionado 65 vezes no Antigo Testamento como um lugar triste onde não havia esperança de mudança. Os babilónicos também acreditavam num lugar parecido e até mesmo o livro do Apocalipse o refere.

O dogma do inferno deve-se mais a crenças de alguns povos da antiguidade e suas filosofias do que a textos bíblicos.
O fogo de Gehenna que aparece muitas vezes citado por Jesus foi sempre traduzido, e mal, por “fogo do inferno”.

Ao longo da Idade Média, a crença no inferno como um lugar de fogo real era geral entre os teólogos católicos. Em 1123, no Concílio de Latrão, a crença no inferno foi imposta como um dogma da fé, advertindo o Concílio que quem o negasse seria réu de prisão, tortura e até de morte.

No Século XIII, Tomás de Aquino, opôs-se mesmo aos primeiros padres da Igreja que atribuíam ao fogo do inferno um sentido metafórico e afirmou como uma certeza Teológica que o fogo era real.

Mais recentemente, o Vaticano falou sobre esse “fogo” advertindo que ele não deveria ser entendido como um fogo real, que queimasse… flexibilidade doutrinal?...

Vejamos o que disse o Cardeal Ratzinger, hoje Papa rezignado, quando em 1979, na qualidade de Presidente da Congregação para a Doutrina e Fé, escrevia:

- “… ainda que a palavra “fogo” seja apenas uma “imagem” ela deve ser tratada com todo o “respeito”.

Que queria dizer, aquele que viria a ser Papa, quando utilizou a palavra “respeito”? – Com muita probabilidade seria sinónimo de “medo”.

 E não é descabido pensar isso quando, ao longo da história da Teologia, as “chamas do inferno”, suas “caldeiras fervendo” e os seus “fogos crematórios” estiveram sempre presentes em prédicas e catequeses fazendo sofrer desnecessária e inexplicavelmente gerações e gerações de crianças e adultos dando, com isso, uma imagem horrível de Deus e totalmente deformada do que Jesus quis ensinar.


Em Março de 2007,Bento XVI, preocupado pelo relativismo de uma certa “modernização doutrinal” quis de novo acentuar a crença no inferno:


- “Jesus veio ao mundo para nos dizer que queria a todos no Paraíso e que o Inferno, de que pouco se fala no nosso tempo, existe e é eterno para os que fecham o coração ao seu amor”…


A ideia de um céu e de um inferno – incluindo o purgatório e até o limbo (para onde vão as crianças que morrem sem serem baptizadas) - são lugares concretos com uma tradição arreigadíssima na Teologia Cristã mais tradicional.

Afinal, os verdadeiros “infernos” a que Jesus baixou foram os calabouços da Torre Antónia de onde foi levado para ser cruelmente torturado pela tropa romana antes de ser condenado à morte.

Estes “infernos” existiram no seu tempo e continuam a existir hoje: campos de concentração, câmaras de gás, prisões clandestinas e celas onde seres humanos são torturados e mortos desaparecendo para sempre de seus familiares e amigos.



Nota - Como se percebe, a Igreja não desperdiça nenhuma oportunidade para utilizar instrumentos de terror que subjuguem os crentes. De resto, a Igreja de Roma nunca se impôs pelo amor mas sim pelo medo. É uma questão de estratégia. Ela considera que as amarras de medo são mais fortes do que as do amor, porque, no fundo, esta gente vive acossada, ela própria, pelo receio das suas convicções que ofendem a inteligência e o raciocínio.

Vivem sobre o terreno frágil e pantanoso de uma mentira sem consistência que faz deles, seres racionais, uma legião de alegres felizes na esperança irreal de uma protecção que nem sequer dá para pensar.

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