O império dos cornudos mansos |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 98
Desmoralizado, Fadul estava lá em baixo, no fundo de um poço, enterrado na merda, cabrão, arkut apontado a dedo.
Abanou a cabeçorra:
-
Não sabia que ela era assim, vivo no mato.
- Eu não devia me importar nem me meter,
não ganho nada com isso. Se fosse sabida me calava. Se tu casar com ela vai ser
um ricaço cheio de dinheiro, pode botar casa pra mim, me tirar da vida.
Fuad até me deu os parabéns, disse que tu vai
ficar podre de rico... - um soluço escapou do peito contra a vontade de
Zezinha:
-
... podre de rico, fedendo, foi o que ele disse, tu tá me ouvindo?
Uma pausa na tentativa de conter o
choro, a voz entrecortada:
-
Se tu casar com ela, nunca mais quero lhe ver. — Pôs-se a chorar.
Não mais tentou conter o pranto, segurar
os soluços no peito, aguentar firme: Zezinha do Butiá cobriu o rosto com as
mãos e deixou-se ir.
Enxergando o brilho das lágrimas na face da
rapariga, ouvindo-a soluçar por sua causa, indignada e triste por pensá-lo noivo
de Jussara, rico e chifrudo, Fadul recobrou o ânimo, liberto do despeito e do
vexame, reergueu-se, retirou-se intacto da raiva e da vergonha.
O bom Deus dos maronitas acudira a
tempo. A Fadul já pouco se lhe dava fosse Jussara viúva honesta ou fosse a mais
falada e fodida madama de Itabuna, não mais pensava em se casar com ela.
Importavam-lhe, isso sim e tão-somente,
as lágrimas de Zezinha, o choro incontrolado, a mágoa, o despeito, a tristeza
da coitada, sinais de bem-querer.
-
Quer dizer que era por isso que tu andava avexada? Não era doença nem morte de
parente?
-
Tu pensa que não tenho sentimento?
A noite caíra inteira, manto de negrume.
Na sala, Xandu acendeu um candeeiro.
8
Fiquei tentado, sim — confessou Fadul ao
narrar a Zezinha
do Butiá as peripécias da breve e maligna alucinação que quase o leva a
amarrar o seu destino ao de Jussara Ramos Rabat, Jussa Pobre-de-Mim, ganhando
ela marido e consideração, ganhando ele a mais bem provida loja de tecidos de
Itabuna e o império dos cornudos mansos: Fadul da Mansidão.
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