O Natal, para mim, foi uma festa de família da minha infância com
luzes e bolinhas de cor numa árvore e... muitas prendas.
E digo foi, porque com o divórcio dos meus pais, era eu ainda muito
jovem, e mais tarde com o meu próprio, o Natal passou a ter um sabor amargo.
É o que acontece com as festas de família, se estas entram em ruptura
pela morte ou separação, o que era festa passa a ser também um momento de recordações
sofridas.
Hoje, talvez a separação dos pais tenha entrado quase na rotina social
mas não para os filhos, mesmo que eles silenciem, mesmo que finjam que está
tudo bem.
O meu Natal era na casa do Poço do Bispo, em Lisboa, onde nasci e
começava com a entrada porta dentro de um enorme pinheiro, talvez não tão
grande como me parecia aos meus olhos de criança.
Depois da árvore entrava o peru, preto, enorme que ficava numa casa de
arrumos até o embebedarem com aguardente e lhe cortarem o pescoço, operação que
a minha mãe não nos deixava assistir.
Finalmente, o momento mágico, o do sapatinho na chaminé, do meu e o
do meu irmão, alinhados ao lado um do outro sem esquecer um pratinho com bolos e
um cálice de vinho do Porto para o Pai Natal em agradecimento e atenção pelas
prendas que ele ia deixar.
Era uma noite de grande inqui etação
e mistério, longa que nunca mais acabava até ao momento da viagem à cozinha e
do deslumbramento do espectáculo da chaminé repleta de embrulhos que eram carregados
para o quarto e abertos nervosamente em cima das camas.
Do jantar de Natal lembro-me do peru, enorme, assado no forno de lenha
lá de casa e que dominava no centro da mesa.
Estes foram os Natais que eu gosto de recordar porque todos os outros, a
partir daí, tiveram o travo amargo da separação da família.
A todos vós que me acompanham diariamente ao longo do ano aqui no Memórias Futuras, desejo-vos uma boa Noite de
Natal repleta de tudo o que pertence de acordo com os hábitos de cada terra e
que a vivam com ternura no coração junto das vossas famílias.
Bom Natal!
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