Ocê gosta tanto assim do São João? |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 136
- Olhou para fora, a chuva apertava no céu de chumbo: - O mês de junho tá chegando. Pra mim não há festa que se meça com a de São João.
Tendo esvaziado o peito, sentiu-se
estouvada e triste; voltou a encostar-se inteira, mesmo chuviscada
aquecia mais que a forja, seu calor queimava - naquela altura já não interessava saber quem
se renderia antes:
-
Não pensava pousar aqui por tanto
tempo, tu me amarrou os pé. Mas tu nunca pediu pra mim ficar.
-
E carecia?
-
Pra tudo tu tem resposta, tu é o Capeta em pessoa. Já tinha acertado
com Cotinha, mas por tu sou capaz de esquecer o São João.
-
Ocê gosta tanto assim do São João?
-
Por demais!
Ela desejava as fogueiras acesas, a
batata-doce, o milho verde, as paneladas de canjica, as pamonhas, os manuês, o
licor de jenipapo, os passos da quadrilha - merecia. As outras todas igualmente
mereciam.
Tição correu a mão na bunda altiva de Epifânia.
A negra Epifânia, mandona, ladina, os homens comendo em sua mão, arrastando-se
a seus pés tratados no relho e na espora: derreada nos braços de Tição, sem
ação, sem mando, quem diria?
-
Se ocê qui ser pode ir brincar o São
João num lugar maior, mais influído. Mas vá sabendo que de todo jeito, nesse
São João vai ter festa em
Tocaia Grande. Na véspera e no dia.
- Quem vai fazer? Tu?
- Também gosto e sinto falta.
- Tu vai fazer pra tua negra?
-
Pra ocê e pra todo mundo.
-
Negro arteiro que tu é. Só quero ver.
-
Pois vai ver.
Epifânia arrulhou, ganiu subjugada,
fendeu-se num vagido:
-
Tou com um quebranto no corpo: tu me enrolou, botou olhado em mim. Tu é Exu Elegbá, tu é o Cão.
-
Meu nome é Castor Abduim, as meninas me chamam de
Tição, um bom rapaz ou ocê não acha?
O vira-lata os acompanhou com o olhar
quando tu e ocê, o malungo e a malunga, rindo um para o outro, voltaram para o quarto
atrás da oficina: ao ouvir a rede gemer, Alma Penada escondeu o focinho entre
as patas dianteiras e adormeceu.
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