As feras... |
As “feras” não se
provocam...
combatem-se.
Só não digo que o medo voltou porque ele esteve sempre cá. Faz
parte da nossa natureza animal, mais do que hoje, ele foi uma peça chave da
nossa sobrevivência.
A quando da grande manifestação nas ruas de Paris do “Je Suis
Charlie, ele estava disseminado, meio escondido entre aqueles milhares de
pessoas, defendidas pela multidão.
Na Bélgica, ontem, estava marcada uma homenagem no Museu Hergé a
Charlie Hebdo mas foi desmarcada para não “atiçar o fogo”, maneira airosa de
dizer que foi por medo, o tal medo que às vezes salva vidas para poderem
continuar a engolir o orgulho.
No Teatro Cine XIII, em Montmarte, a peça “Lapidada”, que era a
história de uma mulher acusada de adultério no Iémen e que tinha cá fora um
cartaz de um rosto de mulher de véu com uma lágrima vermelha, era para estar 3 meses em
cena mas ao fim de 3 dias terminou as exibições.
Os actores tinham medo e os espectadores medo tinham...
Na Síria, em Marrat, o grupo Jabhatal – Nusr, leva uma mulher de
mãos atadas atrás das costas até à Praça da Vila. É uma adúltera.
Um barbudo, igual a outros barbudos, vocifera um discurso
enquanto a mulher ouve ajoelhada. Findo o discurso, faz um gesto, vem outro
barbudo e mata a mulher com um tiro na cabeça... para glória de Alá.
À volta, na Praça, as pessoas passam de carro e filmam a cena
para que sirva de exemplo e de lição, que o medo e a obediência cega é a lei
inexorável para aquela gente.
Entretanto, na Arábia Saudita, Raif Badawi , 31 anos, casado e
pai de três filhos que estão exilados com a mãe no Canadá, por ofensas ao Islão, recebeu a 1ª dose de 50 chicotadas, das mil a
que foi condenado e os “estragos” foram tantos que a próxima dose vai ter que
ser adiada.
Suspeito que vão acabar por chicotear um cadáver, também para glória
de Alá. Antes o tiro na cabeça. Esperar que sarem as feridas destas chicotadas
para lhe darem mais “com o devido acompanhamento médico”, não só é irracional como de
loucos.
Digam-me, não é de ter medo?
Um representante da Arábia Saudita
esteve presente na marcha de protesto contra os terroristas que assassinaram os
cartoonistas em Paris mas, por muito menos, na casa deles, matam-nos à chicotada...
Só há heróis porque o homem não nasceu para o ser. Um acto de
heroicidade é um acto de loucura e as pessoas, acima de tudo, preservam a vida.
Resta-nos pedir aos nossos governos que utilizem os nossos
impostos na defesa da nossa segurança como primeira prioridade porque, se
entendo que as feras não devem ser provocadas, já não perceberei, no contexto em
que vivemos, que não sejam adoptadas todos os mecanismos de defesa que hoje existem e estão
à disposição das autoridades do Estado.
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