Sempre que em viagens de passeio fiquei em cidades islâmicas
o que sempre aconteceu nessas ocasiões foi ser acordado de madrugada pelo
chamamento, através se potentes alti-falantes pela voz de um clérigo a chamar
os fiéis para a oração.
Com toda a sinceridade, acho aqui lo
um abuso, um incómodo, um atentado ao meu direito de dormir a manhã descansado
mas os valores da minha cultura dizem-me que na casa dos outros devo aceitar e
respeitar os seus hábitos quer sociais, quer religiosos, tanto mais que quando
saí da minha terra para os visitar já sabia o que me esperava.
Da mesmo maneira que ao aceitar um convite para jantar
em casa de certas famílias cristãs e eles tiverem o hábito de encomendar e
agradecer a refeição ao Senhor antes de começarem a comer devo,
respeitosamente, aguardar em silêncio o desenrolar da cerimónia.
Ou seja, nos seus países ou nas suas casas, os
visitantes devem aceitar os hábitos de cada um como sinal de boa
educação e de respeito pelos outros.
Este foi um dos valores que os meus pais e a minha
sociedade me transmitiu, faz parte de mim, é indiscutível mas se na minha
cidade de Santarém, onde vivo, se instalasse uma mesqui ta
que me acordasse todos os dias de madrugada para me mandar rezar, a mim, que
ainda por cima sou ateu, não iria gostar mesmo nada...
Os cidadãos de países islâmicos do norte de África saem
das terras onde, infelizmente, nem têm paz para poder viver, o que acontece
também pelo contributo directo ou indirecto de países da Europa, e assentam
arraiais, ao abrigo de leis da emigração, em países europeus, entre eles a França,
transportando consigo, como é inevitável, os seus hábitos sociais e religiosos.
Aqui chegados,
reivindicam o direito de viverem como viviam nos seus países algo parecido como
se eu, instalado numa das suas cidades, mandasse desligar o alti-falante da mesqui ta para não ser incomodado no meu sono matinal.
A França vive situações deste género de muito difícil
resolução pois em determinados bairros de Paris ou em certas cidades, como
Marselha, com uma grande concentração de pessoas imigradas de países do Magreb,
a descaracterização da sociedade francesa é quase total.
Se pessoas desses contingentes migratórios, da primeira
ou segunda geração, especialmente estes, já nascidos em França e portanto seus
naturais, irrompem pela Redacção de um jornal, no centro de Paris, e executam pessoas que fazem uns
bonecos de que elas não gostam por ofenderem os seus princípios religiosos então...
“o caldo começa a entornar-se”.
O Mar Mediterrâneo pode não ser mais que um simples rio
a separar dois continentes mas o que acontece é que, na verdade, a religião islâmica
estabelece muitas diferenças entre as pessoas que vivem de um e outro lado.
Maomé era um líder militar, ao contrário de Jesus que
dava a outra face, unificou tribos e impôs pela espada uma religião, a sua, com
regras muito apertadas, preceitos religiosos absorventes em que um crente, para
ser um bom fiel, tem a sua vida regulada sobre todos os aspectos nas 24 horas
do dia.
Para piorar as coisas esses preceitos ficaram escritos
num livro e cada uma das facções religiosas ou grupos de crentes que se
seguiram, dá-lhes a sua interpretação, faz a sua leitura, à boa maneira de certos
textos jurídicos que dizem tudo e o seu contrário.
Eduardo Lourenço, filósofo, pensador, que viveu a maior
parte da sua vida em França onde acompanhou o aprofundamento das diferenças
entre os naturais e várias gerações de muçulmanos, diz que nos confrontos com o Islão
“nunca vimos a Europa levar a melhor, antes se pode afirmar que a Europa sempre
perdeu com o Islão”.
Actualmente, continua ele, “o que acontece de forma inédita
é que nestes últimos anos a Europa ficou cercada e o que nos salva são as divisões
no seio do próprio Islão, que foi sempre qualquer coisa de impenetrável e, portanto,
a tornar-se numa grande sedução para muitos jovens que não encontram nesta
Europa dos últimos anos grandes saídas para a vida.”
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