Islamofobia
Eu sou muito
cioso das liberdades democráticas da sociedade em que vivo e nem sequer me
imagino a viver fora delas. Na qualidade de ateu, a minha compreensão para com
o mundo é completamente descomprometida de ideias preconceituosas
de natureza religiosa.
Entendo a
necessidade das pessoas serem crentes em função da sua natureza evolutiva que
inscreveu nos seus cérebros um “espaço de crença” que se revelou vital para a
sobrevivência perante tantos perigos exteriores e tanta fragilidade dos nossos
antepassados.
Ao longo de
gerações e gerações os que não acreditaram morriam mais cedo, muitos deles sem
chegarem á idade de procriar de tal forma que, com o tempo, a própria crença
se inscreve num espaço do cérebro, tal como o instinto do ciúme, medo, etc...
Depois, esta
necessidade de acreditar, teve aproveitamentos perigosos porque ela como que
ganhou “vida própria”.
Acredita-se
não só naqui lo que serve os nossos
interesses mas em tudo o que nos dizem para acreditar, desde a cabra que se mata
para fazer chover, como nessa entidade que ninguém viu nem conhece chamada Deus que nos
espia lá do céu e nos espera para castigar ou premiar conforme o nosso
comportamento na vida.
Mas cada vez
mais a razão se está a sobrepor ao aproveitamento que foi feito desta
necessidade de acreditar e é maior a tendência das pessoas, pelo menos no mundo
ocidental, se desligarem das crenças religiosas que sempre serviram o controle
dos crentes para projectos de poder, riqueza e domínio.
É que este
mecanismo da crença é como um hardware que nos é vendido mas o software é da
nossa responsabilidade. Ele manda-nos acreditar mas não nos diz em quê.
Os radicais
da religião islâmica, que ainda hoje em Paris mataram e feriram dezenas de
pessoas, constituem a força mais ameaçadora das liberdades democráticas que nos
são caras e parecem indefesas para lutarem contra este perigo.
Daqui até ao medo e ódio é um pequeno passo. Na
Alemanha e França, os dois maiores países da Europa, os que mais pessoas da
religião islâmica têm recebido dentro das suas fronteiras, registam-se reacções
que visam todos esses emigrantes só porque professam aquela religião.
Especialmente
na Alemanha de Leste, onde as promessas da reunificação ainda não estão
totalmente cumpridas e na França onde o desemprego gerado pela crise também não é
bom conselheiro.
Numa
fazem-se manifestações pelas ruas, na outra escrevem-se livros com propósitos de
explorar o mau estar da situação e facturar, como aquele lançado hoje com o título
Submission, escrito pelo mais popular romancista francês actual, Michel
Houellebec.
Livro de ficção sobre a França de 2022 que elege um Presidente
islâmico, casado com 3 mulheres, uma adolescente, e convida as mulheres
francesas a deixar o mercado de trabalho para os homens e não andarem com
decotes, etc..., etc..., tudo música celestial para os ouvidos da Srª Le Pen.
Por outro
lado, na Síria, Iraque e outros países do Norte de África, na sequência da
guerra que Bush levou a cabo para matar o ditador Saddam Hussein e deixou o país num caos, e das revoluções populares contra os governos dos países
do Médio Oriente denominadas “primaveras árabes”, a instabilidade e vazio do
poder subsequentes foram aproveitados pelos radicais islâmicos que agora criaram
um denominado Estado Islâmico e aterrorizam o mundo, especialmente os europeus
dada a maior proximidade, fazendo passar vídeos a degolar pessoas.
O medo e o
ódio vão de certeza alastrar e a Comunidade Europeia tem de ultrapassar esta
política de vistas curtas da Alemanha, que mais uma vez manda na Europa, o que
não seria mal nenhum se mandasse bem.
Intransigente
nas políticas de austeridade esquece-se que “em casa onde não há pão todos
ralham e ninguém tem razão”.
A Europa precisa
de investimento e emprego para os seus cidadãos, precisa de criar riqueza para
distribuir e até para pagar as dívidas, e a Alemanha tem que ser levada a
entender que são os cidadãos que devem estar em primeiro lugar e que a crise
provocada pelo rigor dos Orçamentos (estes, pelo menos) alimenta tensões
sociais que, essas sim, podem vir a sair muito caras.
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