quarta-feira, janeiro 07, 2015


Islamofobia















Eu sou muito cioso das liberdades democráticas da sociedade em que vivo e nem sequer me imagino a viver fora delas. Na qualidade de ateu, a minha compreensão para com o mundo é completamente descomprometida de ideias preconceituosas de natureza religiosa.

Entendo a necessidade das pessoas serem crentes em função da sua natureza evolutiva que inscreveu nos seus cérebros um “espaço de crença” que se revelou vital para a sobrevivência perante tantos perigos exteriores e tanta fragilidade dos nossos antepassados.

Ao longo de gerações e gerações os que não acreditaram morriam mais cedo, muitos deles sem chegarem á idade de procriar de tal forma que, com o tempo, a própria crença se inscreve num espaço do cérebro, tal como o instinto do ciúme, medo, etc...

Depois, esta necessidade de acreditar, teve aproveitamentos perigosos porque ela como que ganhou “vida própria”.

Acredita-se não só naquilo que serve os nossos interesses mas em tudo o que nos dizem para acreditar, desde a cabra que se mata para fazer chover, como nessa entidade que ninguém viu nem conhece chamada Deus que nos espia lá do céu e nos espera para castigar ou premiar conforme o nosso comportamento na vida.

Mas cada vez mais a razão se está a sobrepor ao aproveitamento que foi feito desta necessidade de acreditar e é maior a tendência das pessoas, pelo menos no mundo ocidental, se desligarem das crenças religiosas que sempre serviram o controle dos crentes para projectos de poder, riqueza e domínio.

É que este mecanismo da crença é como um hardware que nos é vendido mas o software é da nossa responsabilidade. Ele manda-nos acreditar mas não nos diz em quê.

Os radicais da religião islâmica, que ainda hoje em Paris mataram e feriram dezenas de pessoas, constituem a força mais ameaçadora das liberdades democráticas que nos são caras e parecem indefesas para lutarem contra este perigo.

Daqui até ao medo e ódio é um pequeno passo. Na Alemanha e França, os dois maiores países da Europa, os que mais pessoas da religião islâmica têm recebido dentro das suas fronteiras, registam-se reacções que visam todos esses emigrantes só porque professam aquela religião.

Especialmente na Alemanha de Leste, onde as promessas da reunificação ainda não estão totalmente cumpridas e na França onde o desemprego gerado pela crise também não é bom conselheiro.

Numa fazem-se manifestações pelas ruas, na outra escrevem-se livros com propósitos de explorar o mau estar da situação e facturar, como aquele lançado hoje com o título Submission, escrito pelo mais popular romancista francês actual, Michel Houellebec.

Livro de ficção sobre a França de 2022 que elege um Presidente islâmico, casado com 3 mulheres, uma adolescente, e convida as mulheres francesas a deixar o mercado de trabalho para os homens e não andarem com decotes, etc..., etc..., tudo música celestial para os ouvidos da Srª Le Pen.

Por outro lado, na Síria, Iraque e outros países do Norte de África, na sequência da guerra que Bush levou a cabo para matar o ditador Saddam Hussein e deixou o país num caos, e das revoluções populares contra os governos dos países do Médio Oriente denominadas “primaveras árabes”, a instabilidade e vazio do poder subsequentes foram aproveitados pelos radicais islâmicos que agora criaram um denominado Estado Islâmico e aterrorizam o mundo, especialmente os europeus dada a maior proximidade, fazendo passar vídeos a degolar pessoas.

O medo e o ódio vão de certeza alastrar e a Comunidade Europeia tem de ultrapassar esta política de vistas curtas da Alemanha, que mais uma vez manda na Europa, o que não seria mal nenhum se mandasse bem.

Intransigente nas políticas de austeridade esquece-se que “em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão”.

A Europa precisa de investimento e emprego para os seus cidadãos, precisa de criar riqueza para distribuir e até para pagar as dívidas, e a Alemanha tem que ser levada a entender que são os cidadãos que devem estar em primeiro lugar e que a crise provocada pelo rigor dos Orçamentos (estes, pelo menos) alimenta tensões sociais que, essas sim, podem vir a sair muito caras.

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