Baixou-lhe o braço, chegou-lhe a roupa ao corpo. |
TOCAIA
GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio
Nº 140
Temida por causa da feitiçaria, dos bozós. Jogava os búzios, descobria o que fazer para amarrar um homem no rabo da saia de qualquer fulana ou vice-versa, para acabar com o chamego mais fixe, para unir e separar casais: despachos infalíveis.
Assim
constava e se dizia. Não era pabulagem nem balela e a prova estava ali à mão: o
acontecido com Cotinha, Zé Luiz e Merência.
Dera o que falar, motivo de espanto e gozação.
Que outra coisa além do ebó poderia justificar o desatino de Zé Luiz?
Ao
chegar a Tocaia Grande, antes de possuir palhoça própria - aliás posta de pé
num piscar de olhos, em menos de meio dia de trabalho por diversos voluntários,
todos eles contentes de agradar à recém-chegada, a quem Fadul fornecera a
crédito esteira, sabão, agulha, carretel de linha e outras miudezas – Epifania encontrara
pouso no barraco de Cotinha de quem se fez amiga.
Tempos
passados, a pedido da baixinha, preparou um bozó com folhas escolhidas e o
coração de um nambu obtido na caça de Tição e o colocou no caminho da olaria.
Tiro e queda; o troncho Zé Luiz começou a arrastar a asa a Cotinha, meteu-se
com ela de cama e mesa, passou a gastar o que tinha e o que não tinha, a
esbanjar tijolos e telhas.
Regulavam
os dois a mesma altura, um par de cafuringas. Quem não se conformou com o êxito
da coisa-feita foi Merência ao dar-se conta dos
desperdícios do marido.
A
cachaça e a descaração são vícios masculinos incuráveis: uma boa esposa não
pode proibi-los mas deve limitá-los; assim ela fazia, fornecendo ao
cara-metade, nos fins-de- semana, minguada verba para tais abusos: insuficiente
para quem, enxodozado, agia com a largueza de um coronel.
Quando o pegou em flagrante tentando
surripiar economias obtidas com ingentes sacrifícios, aplicou-lhe santo
remédio, comprovado em ensejos precedentes: baixou-lhe o braço, chegou-lhe a
roupa ao corpo.
O
pacato oleiro, curado da paixão, voltou aos hábitos morigerados: cachaça mais
liberal e uma cacetada fora de casa somente aos domingos. E se dê por satisfeito.
Epifânia ia e vinha do rio para o mato,
da choça de Cotinha para a casa de Coroca e de Bernarda, do
barracão de cacau para a venda do turco, volta e meia aparecia na oficina e se
demorava qui eta, vendo Castor
trabalhar o ferro e o latão, assegurando-se de que nenhuma sujeita estava de
olho nele, oferecendo o rabo a quem tinha compromisso e dona.
Não confessava, procurava inclusive não
dar a entender, mas se comia por dentro, devorada de ciúmes, quando desconfiava
de que ele se deitara ou estava em vias de se deitar com outra: empernar com
Tição era tudo que a putada desejava, corja de vagabundas.
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