terça-feira, janeiro 06, 2015

Baixou-lhe o braço, chegou-lhe a roupa ao corpo.
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 140



















Temida por causa da feitiçaria, dos bozós. Jogava os búzios, descobria o que fazer para amarrar um homem no rabo da saia de qualquer fulana ou vice-versa, para acabar com o chamego mais fixe, para unir e separar casais: despachos infalíveis.

Assim constava e se dizia. Não era pabulagem nem balela e a prova estava ali à mão: o acontecido com Cotinha, Zé Luiz e Merência.

Dera o que falar, motivo de espanto e gozação. Que outra coisa além do ebó poderia justificar o desatino de Zé Luiz?

Ao chegar a Tocaia Grande, antes de possuir palhoça própria - aliás posta de pé num piscar de olhos, em menos de meio dia de trabalho por diversos voluntários, todos eles contentes de agradar à recém-chegada, a quem Fadul fornecera a crédito esteira, sabão, agulha, carretel de linha e outras miudezas – Epifania encontrara pouso no barraco de Cotinha de quem se fez amiga.

Tempos passados, a pedido da baixinha, preparou um bozó com folhas escolhidas e o coração de um nambu obtido na caça de Tição e o colocou no caminho da olaria. Tiro e queda; o troncho Zé Luiz começou a arrastar a asa a Cotinha, meteu-se com ela de cama e mesa, passou a gastar o que tinha e o que não tinha, a esbanjar tijolos e telhas.

Regulavam os dois a mesma altura, um par de cafuringas. Quem não se conformou com o êxito da coisa-feita foi Merência ao dar-se conta dos desperdícios do marido.

 A cachaça e a descaração são vícios masculinos incuráveis: uma boa esposa não pode proibi-los mas deve limitá-los; assim ela fazia, fornecendo ao cara-metade, nos fins-de- semana, minguada verba para tais abusos: insuficiente para quem, enxodozado, agia com a largueza de um coronel.

Quando o pegou em flagrante tentando surripiar economias obtidas com ingentes sacrifícios, aplicou-lhe santo remédio, comprovado em ensejos precedentes: baixou-lhe o braço, chegou-lhe a roupa ao corpo.

O pacato oleiro, curado da paixão, voltou aos hábitos morigerados: cachaça mais liberal e uma cacetada fora de casa somente aos domingos. E se dê por satisfeito.

Epifânia ia e vinha do rio para o mato, da choça de Cotinha para a casa de Coroca e de Bernarda, do barracão de cacau para a venda do turco, volta e meia aparecia na oficina e se demorava quieta, vendo Castor trabalhar o ferro e o latão, assegurando-se de que nenhuma sujeita estava de olho nele, oferecendo o rabo a quem tinha compromisso e dona.

Não confessava, procurava inclusive não dar a entender, mas se comia por dentro, devorada de ciúmes, quando desconfiava de que ele se deitara ou estava em vias de se deitar com outra: empernar com Tição era tudo que a putada desejava, corja de vagabundas.

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