segunda-feira, janeiro 05, 2015

Árvore ou monumento?
A Minha Irmã 

Árvore














Conta-se a história daquele homem que já muito velhinho, sentindo-se muito doente, saiu ao quintal e por momentos abraçou cada uma das suas árvores. Depois, regressou a casa, deitou-se e morreu tranquilo.

Era irrelevante que as árvores fossem diferentes: uma figueira, uma laranjeira e uma oliveira. A todas, ao longo de uma vida, tratara de igual modo: regara-as de acordo com as suas necessidades e podara-as com mestria no Inverno para que na Primavera rebentassem com mais força.

Elas, em troca, deram-lhe a sombra à qual se recolhia nas tardes solarengas de verão e os frutos: - Figos pretos de tamanho médio, doces e saborosos, laranjas grandes e sumarentas e azeitonas que ele retalhava, demolhava para perderem o sabor acre e depois salgava e temperava com sal e orégãos. Com nacos de pão de trigo caseiro eram o melhor acompanhamento.

Naqueles momentos em que percebera que a vida o ia abandonar não conseguiu evitar vê-las mais uma vez, tocar-lhes com afecto, no fundo, despedir-se delas.

De certa forma, é uma falácia afirmarmos que somos donos das árvores…vivem muito mais tempo que nós, já cá estavam quando nascemos, cá ficam depois de morrermos e as suas vidas correspondem à vida de gerações de pessoas.

Algumas mesmo mantém-se vivas durante muitas centenas de anos para não referir já o velho pinheiro chamado de “matusálém”, da espécie Pinus Longaeva, da Califórnia, que sobreviveu 4.800 anos.

Quanto ao seu tamanho, algumas deveriam ser consideradas Monumentos da Natureza:

- As Sequóias “Sempre Verdes” da costa norte-americana do Pacífico batem todos os recordes chegando a atingir, a mais alta de todas, 115,6 metros;

- A Sequóia “Gigante”, a maior árvore do mundo, tem 1.489 m3 de volume o que significa que seria necessário uma frota de quase 40 camiões TIR de 40 toneladas para a transportar.

Este conjunto de Sequóias encontra-se hoje resguardado no Parque Nacional das Sequóias, na Califórnia.

Mas o homem, que se tem permitido destruir sem dó nem piedade esta herança fabulosa de vida, continua cego por interesses de “hoje” sacrificando o futuro das gerações que o seguem. No fundo, prevalece o egoísmo da geração presente numa postura que se traduz no tal: “quem vier atrás que feche a porta…”

Estamos, a este propósito, um pouco melhores mas não o suficiente... mas nem sempre terá sido assim.

Tempos houve, quando o homem vivia em comunhão com a natureza numa época em que predominavam as florestas, a relação era estreita e íntima.

No silêncio da noite, nos seus locais de dormida, ele escutava os sons do vento perpassarem por entre as folhas dos ramos mais altos e sensíveis das árvores que o rodeavam e esses sons pareciam uma conversa em privado, umas vezes ligeiramente mais acalorada, outras em frases mais longas e monocórdicas interrompidas por silêncios intermitentes.

O homem do paleolítico ouvia, deitado, e pareceu-lhe a ele, ser primitivo, que eram os deuses que falavam com as árvores.

Humilde, frágil, dependente da natureza, mas muito sagaz e observador, pensou aproveitar aquele relacionamento entre árvores e deuses a seu favor utilizando aquelas como intermediárias entre ele e os deuses.

Assim, discretamente, levantava-se, dirigia-se a uma das árvores mais altas, tocava-lhe com respeito e contava - lhe as suas angústias e medos e pedia-lhe que solicitasse aos deuses a protecção para si, para a sua família e para o seu grupo.

Passaram-se milénios e quase tudo aconteceu de então para cá: fomos compreendendo melhor as forças da natureza, domesticámos plantas e animais, construímos cidades e civilizações, progressivamente temos vindo a desenlear o fio do conhecimento científico e no entanto, apesar de um tão longo caminho percorrido desde então, eu próprio, que detesto crendices dou ainda por mim a bater com os nós dos dedos da minha mão fechada na madeira do tampo da mesa – à falta de uma árvore - para afastar os mais presságios…

Por isso lhes chamo, de forma talvez menos veneranda que o meu antepassado do paleolítico: Minha irmã árvore.

O que se tem feito e continua fazer às florestas do planeta é um crime.

Os consumidores, apinhados em cidades, fora do convívio com a natureza, não abdicam de ter nas suas casas móveis de madeira, alguma de árvores raríssimas e os que se apropriaram dessas florestas, gente desprezível em muitos casos, só lhes interessa o dinheiro que podem ganhar mesmo sabendo que cada árvore faz parte de uma cadeia de vida que já cá estava, que não é deles, e da qual são autênticos algozes com a conivência egoística de todos os outros, de nós, os consumidores.

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