sábado, janeiro 03, 2015

...ocê mandou eu arranjar outra...
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 138


















Epifânia achou Fadul bem-apessoado, deitou-se com ele na noite da chegada, voltou a fazê-lo repetidas vezes, apreciou a magnitude e a destreza da estrovenga mas não se deixou embeiçar, pois de imediato caíra enrabichada por Tição vendo-o de longe na forja desatando fagulhas, esgrimindo labaredas.

Xodó vive-se um de cada vez, não sendo assim não é chamego verdadeiro, é engano e traição que se finda em xingamento e choro, quando não em facada e tiro.

 Epifânia considerava xodó assunto sério e complicado: ventura e sofrimento, harmonia e desavença, pugna e reconciliação.

A reconciliação dobra e tempera o apetite.

Tendo a cabeça feita por Oxum, ou seja, personificando o dengue e a vaidade, prenha de caprichos, em certas horas mais parecia filha de Iansan empunhando bandeiras de guerra para impor-se soberana.

Os caprichos, Tição os tolerava sorridente, achando graça, satisfazia-lhe as vontades. Mandar nele, porém, ninguém mandava.

No mesmo dia do encontro no rio, ao ocupar a rede na oficina para prosseguir na vadiação, Epifânia preveniu, disposta a ocupar o trono e a ditar a lei:

- Não vá querer montar em meu cangote só por me ver enrabichada. Nós não tem papel passado e não há bem que sempre dure.

Tou hoje aqui com tu na rede, amanhã tou com o pé na estrada buscando minha melhoria.

 - Não gosto de mandar... - respondeu Castor pondo-se nela: - ... nem de ser mandado.

Sendo negra cor de breu, uma pé-rapado sem ter onde cair morta, desacatava como se fosse gringa, branca, cor-de-rosa e rica; puta de ofício, dava-se ares de senhora dona bem casada.

Zangava-se facilmente, arrebanhava a saia, arrogante partia por aí afora:

 - Se tu quiser mulher, arranje outra, comigo não vai ser mais.

Passada a raiva, arrependida, retornava para fazer as pazes e tirar o atraso. Aconteceu em mais de uma ocasião encontrá-lo acompanhado:

 - ocê mandou eu arranjar outra...

Site Meter