...ocê mandou eu arranjar outra... |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 138
Epifânia achou Fadul bem-apessoado,
deitou-se com ele na noite da chegada, voltou a fazê-lo repetidas vezes,
apreciou a magnitude e a destreza da estrovenga mas não se deixou embeiçar, pois
de imediato caíra enrabichada por Tição vendo-o de longe na forja desatando
fagulhas, esgrimindo labaredas.
Xodó vive-se um de cada vez, não sendo
assim não é chamego verdadeiro, é engano e traição que se finda em xingamento e
choro, quando não em facada e tiro.
Epifânia
considerava xodó assunto sério e complicado: ventura e sofrimento, harmonia e
desavença, pugna e reconciliação.
A reconciliação dobra e tempera o
apetite.
Tendo a cabeça feita por Oxum, ou seja,
personificando o dengue e a vaidade, prenha de caprichos, em certas horas mais parecia
filha de Iansan empunhando bandeiras de guerra para impor-se soberana.
Os caprichos, Tição os tolerava
sorridente, achando graça, satisfazia-lhe as vontades. Mandar nele, porém, ninguém
mandava.
No mesmo dia do encontro no rio, ao
ocupar a rede na oficina para prosseguir na vadiação, Epifânia preveniu,
disposta a ocupar o trono e a ditar a lei:
- Não vá querer montar em meu cangote só
por me ver enrabichada. Nós não tem papel passado e não há bem que sempre dure.
Tou hoje aqui
com tu na rede, amanhã tou com o pé na estrada buscando minha melhoria.
-
Não gosto de mandar... - respondeu Castor pondo-se nela: - ... nem de ser
mandado.
Sendo negra cor de breu, uma pé-rapado
sem ter onde cair morta, desacatava como se fosse gringa,
branca, cor-de-rosa e rica; puta de ofício, dava-se ares de senhora dona bem
casada.
Zangava-se facilmente, arrebanhava a
saia, arrogante partia por aí afora:
-
Se tu qui ser mulher, arranje outra,
comigo não vai ser mais.
Passada a raiva, arrependida, retornava
para fazer as pazes e tirar o atraso. Aconteceu em mais de uma ocasião
encontrá-lo acompanhado:
-
ocê mandou eu arranjar outra...
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