segunda-feira, janeiro 19, 2015

O Medo
















Dizem os analistas que os homens que mataram os cartoonistas no Charlie Hebdo, conseguiram atingir os seus objectivos porque lançaram a Europa e o mundo numa onda de medo que fez sobressair a sua importância no cenário mundial.

Milhões de pessoas por todo este nosso mundo europeu, mundo de direitos individuais e liberdades, desfilaram indignadas com a ousadia de homens que reclamam o assassínio de pessoas inocentes como objecto da sua luta para instalarem um aparelho de poder na sociedade, e as suas organizações logo vieram reivindicar a responsabilidade desses actos como se fossem vitórias dos seus “soldados” na luta contra o inimigo.

Não será isto mais do que motivo para provocar o medo nos cidadãos? – Claro que é.

A segurança de cada um de nós passa a ter mais um motivo de aleatoriedade: o de estar no sítio errado à hora errada mas, despertar o medo é positivo para nós e mau para os terroristas.

Ao longo da história da evolução da humanidade sempre vivemos com o medo de um inimigo que era real e nos esperava, disfarçado, oculto, invisível e, se vencemos de forma a sobreviver é porque desenvolvemos, dentro de nós, o mecanismo do medo que bem lhe poderíamos chamar a arma dos fracos.

Foi ele, o medo, passados os momentos de pânico e de dor pelas vítimas, nos levou a desencadear mecanismos de defesa, de aperfeiçoamento dos já existentes, de criar outros mais eficazes, aumentando a vigilância.

O sucesso dos terroristas no seu assalto às instalações do Charlie Hebdo foi possível porque o sistema de defesa que estava montado falhou, a vigilância não estava lá ou, se estava, foi incompetente.

É claro que a vida dos cartoonistas “pouco valia” e todas eles estavam conscientes do risco que corriam no seu dia-a-dia, no seu hora-a-hora, mas há opções na vida que exigem muito mais coragem do que matar cobardemente e à traição, pessoas anónimas, desarmadas, que estão dentro de um Min-Mercado simplesmente a fazer compras.

O factor medo está em marcha, todo o nosso sistema de defesa vai ser reavaliado e o sucesso da matança dos terroristas vai-lhes sair caro em vidas e prisões.

A prazo, eles perderam, como perderam em tempos remotos os tigres dentes de sabre que também atacavam de surpresa e à traição.

Esta gente tem garras de outra natureza, mais perigosas e ainda mais afiadas, mas o medo que temos deles vai-nos permitir, mais uma vez, vencer e sobreviver.

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