quinta-feira, janeiro 15, 2015

O Profeta com a lágrima
Maomé a Chorar





















Uma lágrima cai pela face do profeta: “está tudo perdoado” diz a legenda da capa do semanário Charlie Hebdo, o primeiro depois do massacre dos cartoonistas.

Fazer um boneco com o profeta a chorar, humanizando-o, pode ser, num certo sentido, uma ofensa tão grande como apresentá-lo nu.

Expor a alma do profeta mostrando-o a chorar, equivale a expor-lhe o corpo, despindo-o.

Qualquer religião só tem força quando o seu representante lá no céu perde os laços com a terra, se confunde com Deus, adquire o sobrenatural, o poder dos entes mágicos e secretos.

Por alguma razão, a edição deste semanário que saiu na Turquia, o profeta não tem lágrima, logo, não está a chorar e a legenda diz: "ainda há muito a perdoar".

 O Profeta, tal como Cristo, não podem ser homens, têm que ser sagrados, intangíveis, libertos das leis terrenas.

Por esta razão, Jesus da Nazaré, só passou a ter a força de uma religião quando, ao 3º dia depois de morto, subiu ao céu e sentou-se à direita de Deus, deixando de ser Jesus da Nazaré para passar a ser Jesus Cristo.

O Profeta, por razões idênticas, depois de morto, deixa de ter representação terrena, qualquer espécie de figuração, é um livro, um código, um “edifício” de preceitos e regras religiosas.

O Jesus histórico é de somenos importância. O que interessa é o Jesus da religião, o que fala pela boca dos evangelhos escolhidos, o que ganhou o poder do céu, do Pai, ao lado de quem se sentou. 

O da Nazaré não interessou grandemente ao cristianismo, ele já tinha morrido há muito quando os seus seguidores, especialmente um chamado Paulo, percebeu a potencialidade da sua mensagem e procurou torná-la universal com a aliança de um tirano e assassino, chamado Constantino e que também percebeu o mesmo.

As religiões teriam gostado que os seus profetas nunca tivessem sido humanos. Por isso, consideram-nos enviados de Deus na terra com a missão de estabelecer reinos que serão, depois, governados por homens que se dizem, evidentemente, seus representantes, e terão, assim, não a força dos homens mas a de Deus.

É que, enquanto homens, eles só poderão ser respeitados, temidos, mas nunca venerados a menos que representem Deus, que tenham a sua força e o poder imenso de prometerem uma outra vida, eterna e plena de bem-feitorias ou de castigá-los para sempre.

Os imperadores romanos começaram por ser Chefes de uma República, escolhidos e vigiados por um Senado... acabaram a querer ser venerados como deuses.

O poder das religiões emana da fé, arma mágica que retira aos homens o uso da razão, e até o do próprio instinto da sobrevivência, este, tão útil aos radicais do Islão na utilização de homens-bomba e agora, ultimamente, de crianças escolhidas entre as menos inteligentes.

O homem sempre matou outros homens mas quando o faz por motivos religiosos, fá-lo com mais alegria e felicidade.

Apercebemo-nos desse facto pela reacção registada em vídeo e mostrada ao mundo, dos irmãos terroristas que expressaram bem o grau de satisfação quando gritaram que o Profeta estava vingado, mesmo sabendo que em breve iriam ser mortos, a seu desejo, pelas forças policiais francesas.

Maomé não pode chorar porque um homem que chora é fraco tal como o é um homem nu.
  

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