Por hoje basta, meninas, vamos brincar. |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 152
Verdade
correntia em seguida comprovada: aproximando-se das baderneiras sujas de terra,
arranhadas e cuspidas, seminuas, Tição - ai, negro mais pachola! - ordenou sem levantar
a voz:
- Por hoje basta, meninas, vamos
brincar.
Cresceu o som da sanfona numa cadência
influída, buliçoso, irresistível. Voltando as costas às façanhudas, o ingrato
ferrador de burros ofereceu a mão a Merência, mulher casada e direita que desaprovava
toda aquela cachorrada e saiu com ela a dançar.
Dalila enfiou a saia, retornou aos braços
de Misael; Epifânia aos de Guido. Fadul tirou Cotinha: o turco era ainda maior
do que frei Nuno de Santa Maria, mas tamanho não metia medo a quem se educara
servindo a Deus nas alturas.
No jeito manso de sempre, o mesmo ar de
cabra morta, nem parecia ter brigado, Zuleica aceitou o convite de Bastião da
Rosa, o barba de ouro, descalçou os tamancos. No piso de barro batido
perpassavam descalças, leves e ondulantes no lustre do suor, na fragrância do
pituim.
Dedilhando a harmônica, batendo os pés
no chão para marcar o compasso, Pedro Cigano dançava entre os pares no meio do barracão.
Ninguém sentiu falta de Lulu Sanfona. A festa de Santo Antônio começava a se
animar.
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Ai! - animou-se por demais o fovoco do
Cigano. As confusões não se limitaram à troca de bofetes e de aleives entre
raparigas: ocorreu mais e pior, desgraça e maldição. Os ânimos esquentaram-se,
a coisa ficou preta, mas no momento do maior sufoco ouviu-se uma proclamação
inesperada.
Coube ao árabe Fadul Abdala enunciá-la,
porém o sentimento que a ditou era comum a todos os presentes, à exceção dos
tangerinos com os gibões de couro revestidos de insolência.
Palavras simples – na hora devida se
saberá quais foram - inscreveram-se no sangue.
Os aperreios recomeçaram com um
bate-boca entre Guido e
Misael. Referente ainda à aposta feita
durante a briga das mulheres, os dois tostões arriscados no rabo de Dalila, nas
tetas de Epifânia.
Por algum motivo não revelado ou sem
motivo, somente para provocar, Misael, após tomar uns tragos, proclamou Dalila vencedora
e reclamou pagamento imediato.
Estranharam-se num intervalo da música
enquanto bebiam do jenipapo de Cotinha, gostoso e forte. Chegaram às más
palavras e às ameaças mas não foram às vias de fato, pois o Turco Fadul resolveu
intervir.
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