Comiam em sua mão... |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 151
Dalila estendeu a mão com que limpara o
olho e a estalou na cara de Epifânia. Agarraram-se pelos cabelos, trocaram
sopapos, se atracaram aos xingos e unhadas.
Formou-se em torno roda animada e galhofeira a
incentivar as contendoras.
- Boto dinheiro na do cuzão - Desafiou Misael honrando sua dama.
-
Topo dois tostões - Aceitou Guido não
menos cavalheiro.
Sem parar de tocar, Pedro Cigano
levantou-se do comprido
banco de madeira, obra de Lupiscínio,
onde estivera sentado em companhia de Zuleica, e veio se colocar na roda.
Vale a pena registrar que em momento
algum, nem mesmo quando o banzé esteve a pique de generalizar-se, o tocador
deixou de dedilhar a sanfona numa espécie de acompanhamento musical executado
em surdina.
Não obstante estar a zero, arriscou um cruzado
em Epifânia, tão certo se encontrava do resultado. Bastião da Rosa cobriu a aposta
por puro espírito esportivo, para animar a competição, sem alimentar ilusões
sobre o recebimento daqueles quatrocentos réis: Pedro Cigano devia a Deus e a
meio mundo.
Conforme opinou Guido, as apostas
ficaram naturalmente anuladas quando Zuleica entrou na liça surpreendendo a
todos menos a Coroca.
Dalila parecia à beira da derrota; com um
safanão Epifânia arrancara-lhe a saia de chita - a velha, pois a nova ela
reservara para o São João - deixando-a de traseiro à mostra para gáudio da
platéia.
Sem saber como reagir, viu-se Dalila na iminência
de abandonar o campo de batalha. Nesse momento, levantando- se do banco de onde
acompanhara as peripécias do emboceto,
Zuleica agrediu Epifânia a pontapés;
levava a vantagem de calçar tamancos.
Sentindo-se
apoiada, Dalila, rebolando o rabo nu, voou novamente para cima da rival. A roda
aplaudiu com ditos, palmas e assovios.
- Duas contra uma, sinhas frouxas. Vou
dar nas duas. Mas Epifânia não as enfrentou sozinha: a pequena Cotinha, solidária,
se meteu na briga e revelou inesperada valentia.
Rolaram as quatro no chão, emboladas;
além do cu de Dalila viam-se os peitos de Epifânia: desabotoara-se a bata de
baiana.
Com a intervenção de Zuleica ficou
patente o verdadeiro motivo do bafafá, ao ver do mulherio motivo justo para não
dizer sublime: o negro Castor Abduim da Assunção ali bem do seu, na maior
manemolência.
Por ele suspiravam, se xingavam e se
batiam: comiam em sua mão.
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