Negra piolhenta - cagona |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 150
Tição se perguntava como não lhe
ocorrera semelhante inspiração se no Recôncavo as festas de
Junho começavam no dia primeiro, com as trezenas de Santo Antônio, e somente
terminavam na noite de vinte e nove para trinta, nos assustados de São Pedro.
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Fuzuê de puta é assim mesmo: fogo de
palha, muita faísca e pouca brasa; começa de repente e de repente acaba, dura
pouco.
Explode, inesperado, alastra-se, chega
ao auge, perde o impulso desanima e cessa. Não sobra nem fumaça.
O arranca-rabo provocado por Epifânia e
Dalila no início do fovoco, na noite de Santo Antônio, não chegou a ser
sensacional mas deu para animar. Como mais tarde se pôde comprovar, influiu no
ânimo de Misael, pardavasco de boa aparência e abastado, segundo se deduzia dos
modos petulantes.
Em companhia de dois vaqueiros, um velhote e
um rapazola, regressava de Itabuna onde deixara numerosa boiada tangida do
sertão de Conqui sta.
Vestiam gibões de couro, montavam bons
cavalos, portavam armas e dinheiro.
Detiveram-se em Tocaia Grande no fim
da tarde. Festa de
Santo Antônio, uma pagodeira? Boas
falas.
Dançavam uns poucos pares ao som da
harmônica de Pedro
Cigano quando Epifânia largou
abruptamente dos braços de mestre Guido e ameaçou partir a cara de Dalila que rodopiava
com o dito-cujo Misael.
Libertando-se do par, DaMa revidou:
-
Venha, se é mulher!
Guido e Misael puseram-se de lado para
assistir de camarote:
quem não gosta de apreciar lance por
lance, debique por debique, tabefe por tabefe, uma rixa de mulheres?
Epifânia atacou de cuspo. Visou o olho
esquerdo de Dalila e acertou em cheio. Cruzaram-se os insultos:
- Negra piolhenta! Cagona!
-
Puta empestiada! Catinguenta!
Negras e putas as duas, piolhentas,
empestiadas, mas eram duas negras de truz, duas putas requestadas, duas
princesas do lugar.
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