sábado, fevereiro 14, 2015





O Syriza










Não há nada que compense tanto como a satisfação do nosso orgulho, aquele que tem a ver com a nossa dignidade como pessoa e como povo.

Quando era ainda jovem e andava a estudar num Colégio interno, um colega meu, mais velho e mais crescido, ofendeu a minha mãe por palavras e eu dei-lhe um murro sem ele esperar, sem pré – aviso.

Depois levei uma tareia que só não foi maior porque ele não quis e eu fiquei muito feliz. O primeiro murro, o único de resto da minha parte, foi meu e a honra do convento tinha sido salva.

Este episódio que na minha vida remonta às calendas gregas lembra-me o Syrisa, que representa um país “pequenino e falido” no dizer do seu Ministro das Finanças, mas que bate o pé, protesta, expressa a sua vontade, diz o que sente e o que quer mesmo sabendo, lá no fundo, que talvez não tenha sorte nenhuma.

Aquelas pessoas que agora dão a cara nunca estiveram envolvidas em nenhum governo anterior, a bem dizer eles nem são bem um partido político. 

Essencialmente, eles representam o desespero e a humilhação que sente o seu povo e sabem que essa coisa de acabar com a austeridade é treta mas também sabem, igualmente, que há formas diferentes de a viver.

Esta que lhes foi imposta nos últimos anos por estrangeiros com a cumplicidade de alguns gregos que lá dentro executaram as políticas da austeridade, foi demasiado humilhante.

A multidão dos gregos foi caindo, um após outro, abatidos sem poder sequer pegar em armas. Muitos deles vagueiam hoje pelas ruas de Atenas como fantasmas de si próprios.

Eu gostava que a Grécia continuasse a fazer parte do Projecto Europeu. Mais que qualquer outro país da Europa, por razões históricas e acima de tudo culturais, mas eu percebo que o Syriza, se quiser ser coerente com as promessas feitas aos seus eleitores e que se continuam a manifestar em seu apoio em frente do Parlamento, irá ter muitas dificuldades em convencer os restantes parceiros europeus.

Se tiver que regressar ao Dracma com o Syriza a bater com a porta, com mais ou menos violência, as dificuldades, que é como quem diz, a austeridade, irá aumentar, ficarão sem crédito e os seus credores a “ver navios” e eles são muitos porque a Grécia tem a maior frota de navios mercantes do mundo.

Mas será uma austeridade repartida, assumida, de cabeça levantada, sem humilhação como quando eu, em miúdo, dei um murro nas trombas do graúdo e depois, muito feliz, levei uma tareia.

Então, sim, tudo estará nas mãos dos representantes do povo grego, do amor que eles tiverem à sua dignidade, da capacidade para se constituírem numa nova experiência para a Europa, mais que não seja para chatearem os bárbaros do Norte e o nosso Passos Coelho.

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