O Syriza
Não
há nada que compense tanto como a satisfação do nosso orgulho, aquele que tem a
ver com a nossa dignidade como pessoa e como povo.
Quando
era ainda jovem e andava a estudar num Colégio interno, um colega meu, mais
velho e mais crescido, ofendeu a minha mãe por palavras e eu dei-lhe um murro
sem ele esperar, sem pré – aviso.
Depois
levei uma tareia que só não foi maior porque ele não qui s
e eu fiquei muito feliz. O primeiro murro, o único de resto da minha parte, foi
meu e a honra do convento tinha sido salva.
Este
episódio que na minha vida remonta às calendas gregas lembra-me o Syrisa, que
representa um país “pequenino e falido” no dizer do seu Ministro das Finanças,
mas que bate o pé, protesta, expressa a sua vontade, diz o que sente e o que
quer mesmo sabendo, lá no fundo, que talvez não tenha sorte nenhuma.
Aquelas
pessoas que agora dão a cara nunca estiveram envolvidas em nenhum governo
anterior, a bem dizer eles nem são bem um partido político.
Essencialmente,
eles representam o desespero e a humilhação que sente o seu povo e sabem que essa coisa de acabar com a austeridade é treta mas também sabem, igualmente,
que há formas diferentes de a viver.
Esta
que lhes foi imposta nos últimos anos por estrangeiros com a cumplicidade de alguns gregos que lá dentro executaram as políticas da austeridade, foi demasiado
humilhante.
A
multidão dos gregos foi caindo, um após outro, abatidos sem poder sequer pegar em armas. Muitos deles
vagueiam hoje pelas ruas de Atenas como fantasmas de si próprios.
Eu
gostava que a Grécia continuasse a fazer parte do Projecto Europeu. Mais que
qualquer outro país da Europa, por razões históricas e acima de tudo culturais, mas eu percebo que o Syriza, se qui ser
ser coerente com as promessas feitas aos seus eleitores e que se continuam a
manifestar em seu apoio em frente do Parlamento, irá ter muitas dificuldades em
convencer os restantes parceiros europeus.
Se
tiver que regressar ao Dracma com o Syriza a bater com a porta, com mais ou
menos violência, as dificuldades, que é como quem diz, a austeridade, irá
aumentar, ficarão sem crédito e os seus credores a “ver navios” e eles são
muitos porque a Grécia tem a maior frota de navios mercantes do mundo.
Mas
será uma austeridade repartida, assumida, de cabeça levantada, sem humilhação
como quando eu, em miúdo, dei um murro nas trombas do graúdo e depois, muito
feliz, levei uma tareia.
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