sexta-feira, março 13, 2015

Estás papando essa franguinha?
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 196


















A própria Adriana já lhe parecia pouco apetitosa, comida requentada, pão dormido. A amigação completara onze anos, Adriana perdera o viço e o romantismo. Queixava-se dos intestinos, sofria de flatulência, tinha enxaquecas, embirrava facilmente, dia e noite nas sessões espíritas, era uma segunda esposa, cópia da primeira, apenas menos gorda e mais jovem.

Jovem em termos, já passara da casa dos trinta, não conservara nem a louçania nem o donaire de menina-moça, de quando o Coronel a conhecera e se apaixonara. Para burro velho, capim novo.

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Ora, Sacramento de tal maneira sobressaía na roda de mulheres que, manejando tacos de facão, partiam cocos de cacau nas plantações, a ponto de nenhum dos alugados, dos mateiros, dos tropeiros ter-se jamais atrevido com ela.

Não que fosse soberba e empafiosa, mas era reservada e séria; já completara quinze anos contudo parecia não ter pressa em deixar o barraco de barro batido, onde vivia em companhia da mãe, para se juntar com homem.

Pôr-lhe olhos de cobiça quem não os pôs, ao vê-la passar modesta, porém garbosa, bem cuidada, as formas do corpo mal escondidas no vestido de chita?

 De Espiridião, negro da carapinha branca, cabra de confiança cujas únicas tarefas consistiam em acompanhar o Coronel nas estradas e dormir na casa-grande com o bacamarte ao alcance da mão, até meninotes ajudantes de tropeiro, contumazes nas jumentas e nas mulas, nas éguas de anca empinada.

A anca empinada de Sacramento, égua de estimação, ai! O próprio Venturinha reparara nela durante os poucos dias que estivera na fazenda e a apontara a Natário quando, junto às barcaças, cavaqueavam animados a respeito das aventuras amorosas do rapaz: gostava de contá-las, Natário gostava de ouvi-las.

No cocho, Sacramento dançava sobre o cacau mole a dança do mel a fim de limpar os caroços, deixando-os prontos para a secagem nas barcaças e estufas. O mel escorria pelas gretas do cocho.

Presas na cintura as pontas do vestido de Sacramento, as coxas à mostra, quadris rebolando no passo leve e rápido:
Sou da cor de cacau seco
Sou o mel do cacau mole...

 - Cabocla bonita! Espie, Natário. Merece...

- Não merece nada, Venturinha. Não se meta, ela tem dono.

- Estás papando essa franguinha? Meus parabéns.

- Quisera eu. Com um movimento de cabeça apontou para a casa-grande.

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