Aguenta, aguenta... |
O Sr. Ulrich
Numa fase difícil da vida portuguesa
a quando dos cortes dos salários, pensões apoios sociais, acompanhados,
paralelamente, pela emigração e o desemprego, levantou-se um clamor de revolta
entre os portugueses.
Foi então que o Sr. Ulrich,
Presidente do BPI, veio dizer nos ecrãs da televisão num ar convicto,
desafiador e provocante, relativamente aos sacrifícios que estavam a ser
exigidos, que o povo “aguenta”, “aguenta”... e disse-o repetindo as palavras,
parecendo-me a mim, ao ouvi-lo, que ele estava por dentro a rebolar-se de
prazer. Engano meu, com certeza.
Em primeiro lugar, nunca esteve em
causa se os portugueses aguentavam os sacrifícios. Há mais de oito séculos que
os aguentam e o Portugal dos portugueses continua como o país mais antigo da Europa
dentro das suas actuais fronteiras, pelo que aqui lo
soou mais a uma ameaça a fazer lembrar o pai quando diz ao filho, garoto, que
se porta mal: “ai levas, levas...”
Se este Ulrich tinha a intenção de
dizer alguma coisa que ofendesse os portugueses que estavam a passar
dificuldades, e eram quase todos, não poderia ter escolhido melhor as palavras
do que essas do “aguenta, aguenta”.
Não sei bem qual era a intenção dele.
O ego destes homens e do Ulrich em particular, é de tal forma desmesurado que
qualquer tentativa de afago só pode resultar numa tremenda bofetada.
Eles não falam de igual para igual,
ao mesmo nível, de olhos nos olhos mesmo quando estão no mesmo plano ou
sentados e nós em pé.
O convívio diário com o muito dinheiro
confere-lhes um poder, contamina-os. Ser banqueiro é uma espécie de ser deus menor
num reino de infelizes que os cortejam.
Acontece que o Banco do Sr. Ulrich
durante dois anos e meio recebeu uma ajuda pública porque os Bancos quando estão
em dificuldades são os únicos que têm ajudas garantidas, ao que dizem os
especialistas, senão forem ajudados provocam riscos sistémicos.
De qualquer maneira, pareceu bem que
durante esse período durante o qual o Banco recebeu ajuda pública, os seus
administradores sofressem uma redução dos seus salários e, claro, o Sr. Ulrich
também. Terá sido a sua quota parte nos sacrifícios...
Entretanto, o BPI, em Julho de 2014,
procedeu à totalidade do reembolso da tal ajuda pública e, a partir daí, os
administradores voltaram a receber os seus ordenados pelos montantes que tinham
antes dos cortes.
Mas não ficaram por aí: receberam
também todo o dinheiro que lhes tinha sido, não cortado mas apenas suspenso
para posterior devolução.
Afinal, o Sr. Ulrich que dizia ao
povo “aguenta”, “aguenta” não aguentou...
Espera-se, agora, quando o país
recuperar da crise, que os pensionistas, reformados, trabalhadores, beneficiários
de apoios sociais, emigrantes forçados, desempregados, venham a ser todos reembolsados
como o Sr. Ulrich - do “aguenta”, “aguenta” - já foi.
Eu não teria tido coragem, auferindo rendimentos de mais de 100.000 euros mensais, dizer na cara dos meus concidadãos pela televisão: aguenta, aguenta.
Eu não teria tido coragem, auferindo rendimentos de mais de 100.000 euros mensais, dizer na cara dos meus concidadãos pela televisão: aguenta, aguenta.
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