quinta-feira, abril 09, 2015

Aguenta, aguenta...
O Sr. Ulrich









Numa fase difícil da vida portuguesa a quando dos cortes dos salários, pensões apoios sociais, acompanhados, paralelamente, pela emigração e o desemprego, levantou-se um clamor de revolta entre os portugueses.
Foi então que o Sr. Ulrich, Presidente do BPI, veio dizer nos ecrãs da televisão num ar convicto, desafiador e provocante, relativamente aos sacrifícios que estavam a ser exigidos, que o povo “aguenta”, “aguenta”... e disse-o repetindo as palavras, parecendo-me a mim, ao ouvi-lo, que ele estava por dentro a rebolar-se de prazer. Engano meu, com certeza.
Em primeiro lugar, nunca esteve em causa se os portugueses aguentavam os sacrifícios. Há mais de oito séculos que os aguentam e o Portugal dos portugueses continua como o país mais antigo da Europa dentro das suas actuais fronteiras, pelo que aquilo soou mais a uma ameaça a fazer lembrar o pai quando diz ao filho, garoto, que se porta mal: “ai levas, levas...”
Se este Ulrich tinha a intenção de dizer alguma coisa que ofendesse os portugueses que estavam a passar dificuldades, e eram quase todos, não poderia ter escolhido melhor as palavras do que essas do “aguenta, aguenta”.
Não sei bem qual era a intenção dele. O ego destes homens e do Ulrich em particular, é de tal forma desmesurado que qualquer tentativa de afago só pode resultar numa tremenda bofetada.
Eles não falam de igual para igual, ao mesmo nível, de olhos nos olhos mesmo quando estão no mesmo plano ou sentados e nós em pé.
Não, há uma áurea de superioridade, uma marca de nascença reconhecida também no Ricardo Salgado, como se pertencessem a uma casta que encontramos na sociedade indiana. Estes são todos brâmanes...
O convívio diário com o muito dinheiro confere-lhes um poder, contamina-os. Ser banqueiro é uma espécie de ser deus menor num reino de infelizes que os cortejam.
Acontece que o Banco do Sr. Ulrich durante dois anos e meio recebeu uma ajuda pública porque os Bancos quando estão em dificuldades são os únicos que têm ajudas garantidas, ao que dizem os especialistas, senão forem ajudados provocam riscos sistémicos.
De qualquer maneira, pareceu bem que durante esse período durante o qual o Banco recebeu ajuda pública, os seus administradores sofressem uma redução dos seus salários e, claro, o Sr. Ulrich também. Terá sido a sua quota parte nos sacrifícios...
Entretanto, o BPI, em Julho de 2014, procedeu à totalidade do reembolso da tal ajuda pública e, a partir daí, os administradores voltaram a receber os seus ordenados pelos montantes que tinham antes dos cortes.
Mas não ficaram por aí: receberam também todo o dinheiro que lhes tinha sido, não cortado mas apenas suspenso para posterior devolução.
Afinal, o Sr. Ulrich que dizia ao povo “aguenta”, “aguenta” não aguentou...
Espera-se, agora, quando o país recuperar da crise, que os pensionistas, reformados, trabalhadores, beneficiários de apoios sociais, emigrantes forçados, desempregados, venham a ser todos reembolsados como o Sr. Ulrich - do “aguenta”, “aguenta” -  já foi.

Eu não teria tido coragem, auferindo rendimentos de mais de 100.000 euros mensais, dizer na cara dos meus concidadãos pela televisão: aguenta, aguenta.

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