Mulher igual a tu, não há. Nem vai haver. |
TOCAIA
GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 217
11
Zezinha do Butiá levantou-se ao mesmo
tempo que Fadul
Abdala quando os relinchos e os zurros
começaram a acordar o vale e os tropeiros foram reunir os comboios.
Noite de sonhar, não de dormir, noite de risos
e suspiros, de ais dolentes, de uivos abafados, de palavras boas de dizer e de
ouvir.
Fadul lhe propôs ficar dormindo; já de
pé, ela recusou:
- Vou lhe ajudar.
Considerou o tamanho do leito,
grandioso, uma ponta de reproche na voz cantada:
- Foi aqui
que tu enfiou a rola em Jussa, não foi?
A tarde inteira... Puta descarada!
Passado tanto tempo, ela ainda se
lembrava com mágoa e com rancor. O turco tocou-lhe o corpo nu, com a mão
enorme:
- Mulher igual a tu, não há. E não vai
haver.
Zezinha tirava vestidos do baú, escolhia
o que usar. Para servir cachaça no balcão àquela hora da manhã, vestia-se de
festa.
Preparara-se como se fosse viajar para
Ilhéus e não para aquele cu-de-judas. Quando o movimento cessou, após o banho
no rio, a carneseca chamuscada e a madura graviola, saíram a andar pelo
lugarejo.
As raparigas espiavam das entradas das
choupanas, saudavam galhofeiras. Coroca gracejou ao passar por eles na Baixa dos
Sapos:
- Se amigou, seu Fadu? Lhe dou os
parabéns, soube escolher.
- Voltou-se para a visitante: — Ocê é
Zezinha, não é? Eu sou Jacinta, quando seu Fadu viaja pra lhe ver, sou eu que
fica aqui tomando conta do cacete
armado.
- Vim só pra me despedir, tou de partida
pra Sergipe.
Fadul me fala sempre em vosmicê, disse
que vosmicê vale por dez homens.
- Bondade dele.
Percorreram Tocaia Grande de ponta a
ponta, ela ficou conhecendo o velho Gerino, Merência e Lupiscínio, Castor já
conhecia: não só de vista e de conversa, também do mais.
De volta ao balcão da venda, Zezinha resumiu
sua opinião:
- Tão pobre como Butiá, o lugar onde
nasci. Só que Butiá em vez de andar pra frente, anda pra trás que nem rabo de cavalo.
Se eu pudesse, ficava aqui , junto com tu.
Na manhã seguinte, após a noite em
claro, Fadul despachou os tropeiros com Zézinha de caixeira, entre risos e
chalaças.
Quando o último comboio ganhou a
estrada, o turco entregou a chave da casa e o revólver a Coroca, botou as
cangalhas nos dois burros e acompanhou a rapariga ao trem de ferro na estação
de Taquaras.
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