Mande fazer a cacimba, não se esqueça. |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 218
Calados, percorreram as léguas do
caminho. Tristes como se estivessem se despedindo para sempre. Ao subir para o
trem, Zezinha lhe recordou, tocando-lhe o peito com o dedo em riste:
- Mande fazer a cacimba, não se esqueça.
Não se preocupou em esconder as
lágrimas:
- Obrigado pelo adjutório - Fez um esforço para sorrir:
- E por tudo mais. - Incontroláveis, os
soluços irromperam altos e doridos. O turco meteu a mão no bolso, tirou um
lenço grande, de ramagens, desbotado, e o passou a Zezinha, que nele mergulhou
o rosto, de pé na porta do vagão.
Fadul qui s
falar, não pôde. O trem apitou, começou a andar,
Zezinha do Butiá acenava adeus com o
desbotado lenço de ramagens.
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Durvalino demonstrara ser um pé-de-boi,
incansável no trabalho e comprovadamente honesto: se afanava uma ou outra moeda
para alimentar o vicio no raparigal, tratava-se de quantia tão insignificante
que Fadul fingia não se dar conta.
Fora disso era um varapau mexeriqueiro e
caga-regra. O rei dos apelidos, devido à altura e à lingua de badalo:
Pau-de-Sebo, Vara-de-Pescar, Leva-e- Traz, Vosmicê-Vai-Ver e Já-Sabe?, assim
mesmo com ponto de interrogação na voz.
Esses, os principais; havia outros, menos corriqueiros,
mais poéticos: Lombriga-de-Turco, Sobejo-de-Puta, Piolho-do-Cão.
Pessoa alguma no uso do juízo tentaria
disputar com Pedro Cigano a condição de pregoeiro-mor dos sucessos ocorridos
naquelas bravias comarcas, o extenso e turbulento território do rio das Cobras
com um sem-número de propriedades, de pontos de pernoite, arruados, lugarejos,
arraiais.
Oferecendo a preço vil o som de seu fole,
sinal de alegria e festa, Pedro Cigano, pés de sete-léguas, palmilhava os
caminhos, levando, de sítio a sítio, as últimas informações, as notícias mais
recentes: quem morrera e quem parira, bodega que abrira ou que fechara as
portas, brigas, desordens, amigações, farrombas de jagunços, invasões de
terras, matança de índios, vendas de roças e fazendas, os pousos das putas, andejas
como o sanfoneiro.
Merecia confiança pois não era de inventar,
bastava dar desconto na extensão e no volume do enredo: apenas ao contar ele
aumentava, engrandecia, com um fio de cabelo trançava um chinó.
No que se refere contudo aos limites de
Tocaia Grande ninguém levava a palma a Durvalino, a par do menor incidente, de qualquer
bate-boca de raparigas, de passageiro desacordo de tropeiros nas partidas de
ronda, no derriço dos xodós: nada ocorria em Tocaia Grande sem
que Durvalino soubesse e referisse.
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