Charlie Chaplin |
A Quem pertence
o Mundo
o Mundo
Afinal, a quem pertence o mundo, pergunta Maria Filomena Mónica traduzindo uma interrogação geral sentida de forma cada vez mais declarada e por razões que se percebem perfeitamente relacionadas com a crise europeia e a portuguesa em particular.
Vejam bem que em 1990 a China produzia menos
de 3% da indústria mundial. Pois bem, presentemente, atinge um quarto dessa
produção. De menos de 3% passaram para 25% em 25 anos.
Não sei se alguma economia do mundo, a inglesa ou
americana, por ventura, terão dado um salto tão grande em tão pouco tempo.
A China fabrica 80% de todos os ares condicionados do
mundo, 70% dos telemóveis e 60% dos sapatos e ultrapassou já a economia dos EUA,
17,47% para 16% em termos de previsão para 2015 - 2016.
E nós aqui ,
na Europa, o que vamos fazer? No que respeita aos portugueses fomos avisados com uma
antecedência de alguns anos, penso que uns 10, que iria ser aberto o comércio
aos produtos chineses mas 10 anos para nós, portugueses, que vivemos com base
no dia a dia, máximo mês a mês e entregamos o futuro a Deus ou à Srª de Fátima,
10 anos é uma eternidade.
Eu acompanhei de perto essa situação nesta zona aqui do Ribatejo e fui testemunha da quantidade de
trabalho que vinha parar a pequenas e pequeninas empresas aproveitando o baixo
salário que os empresários, melhor dizendo, patrões pagavam aos trabalhadores, quase todos do género feminino, debruçadas sobre as suas máqui nas, quais outras máqui nas,
montando peças de vestuário que ninguém na Europa conseguia fazer mais barato.
Baixos salários que, de qualquer maneira, constituíram
outra fonte de receita para as famílias que permitiu ter filhos a estudar e
ajudou a pagar ao Banco a prestação da casa.
Em alguns casos era até toda a família que à noite, ao
serão, contribuía com o seu trabalho para aumentar as margens do patrão e ela própria aumentar um pouco mais o seu rendimento ao fim do mês.
Quando chegaram os contentores com os produtos
chineses foi um choque brutal no mundo do emprego que se situava então ao nível
dos 4% no que ao desemprego dizia respeito.
Feirantes por todo esse Portugal que vendiam em feiras
e mercados esses produtos de vestuário e se abasteciam junto desses pequenos
produtores particulares, muitos deles, situados no Norte do país, logo se
aperceberam que ninguém conseguiria concorrer com esses contentores.
Para os países da Europa estava fora de questão voltar
a produzir o que os chineses faziam muito mais barato mesmo que a qualidade não
fosse bem a mesma.
Com preços mais baixos ao nível de impostos, salários,
energia e uma autêntica rebaldaria relativamente às condições de trabalho, a economia
chinesa tinha fatalmente que disparar e milhões de chineses do campo povoaram
as cidades.
Este sim, foi o verdadeiro Salto em Frente que Mao Tse
Tung tinha anunciado e que viria a transformar-se no maior desastre da História
Moderna. Deng Xiaoping, ao promover o liberalismo económico, libertou a força
dessa imensa população de perto de 1.400.000.000 de pessoas, mais de 4 vezes o
número de europeus e que até aí estavam fora do mundo.
Pela nossa parte, as dificuldades acabaram por
representar um desafio ao nosso engenho e arte e estamos hoje a vender na
Europa e no mundo os sapatos mais caros... a seguir aos italianos.
No Têxtil e no Vestuário temos hoje 35.000 postos de
trabalho e quase 3.000 milhões de euros da facturação dois terços dos quais
para exportação.
No país das hortas e hortinhas que éramos, estamos a crescer 10% nas exportações das
agroalimentares e legumes no tabuleiro das exportações apostando, tal como nos
sapatos, no vestuário e no têxtil, na qualidade dos produtos tirando partido de
microclimas únicos na Europa.
Houve leviandade e precipitação na abertura total do
nosso mercado aos produtos chineses, arrastados pela Europa. Foi um choque
abrupto e pôs os ventos a correr definitivamente a favor dos chineses mas a
vida é um processo dinâmico permanente e o que é confortável hoje não o será
amanhã e vice-versa.
As crises foram sempre ao longo da história factores
de progresso no futuro e se alguma coisa nos ensina são os erros, mesmo quando
os repetimos. Mal seja mal será que algum dia uma dessas crises não seja superável ou nos
leve de rastos até ao passado como está acontecendo agora em grande parte do
norte de África em que se regressou ao mais negro da Idade Média.
Voltando à China e para acabar, será bom que se venha
a fazer com eles um bom Tratado Comercial para o qual devemos ir de olhos
firmes e frios... à chinesa.
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