sábado, abril 04, 2015

Charlie Chaplin
A Quem pertence

o Mundo















Afinal, a quem pertence o mundo, pergunta Maria Filomena Mónica traduzindo uma interrogação geral sentida de forma cada vez mais declarada e por razões que se percebem perfeitamente relacionadas com a crise europeia e a portuguesa em particular.

Vejam bem que em 1990 a China produzia menos de 3% da indústria mundial. Pois bem, presentemente, atinge um quarto dessa produção. De menos de 3% passaram para 25% em 25 anos.

Não sei se alguma economia do mundo, a inglesa ou americana, por ventura, terão dado um salto tão grande em tão pouco tempo.

A China fabrica 80% de todos os ares condicionados do mundo, 70% dos telemóveis e 60% dos sapatos e ultrapassou já a economia dos EUA, 17,47% para 16% em termos de previsão para 2015 -  2016.

E nós aqui, na Europa, o que vamos fazer? No que respeita aos portugueses fomos avisados com uma antecedência de alguns anos, penso que uns 10, que iria ser aberto o comércio aos produtos chineses mas 10 anos para nós, portugueses, que vivemos com base no dia a dia, máximo mês a mês e entregamos o futuro a Deus ou à Srª de Fátima, 10 anos é uma eternidade.

Eu acompanhei de perto essa situação nesta zona aqui do Ribatejo e fui testemunha da quantidade de trabalho que vinha parar a pequenas e pequeninas empresas aproveitando o baixo salário que os empresários, melhor dizendo, patrões pagavam aos trabalhadores, quase todos do género feminino, debruçadas sobre as suas máquinas, quais outras máquinas, montando peças de vestuário que ninguém na Europa conseguia fazer mais barato.

Baixos salários que, de qualquer maneira, constituíram outra fonte de receita para as famílias que permitiu ter filhos a estudar e ajudou a pagar ao Banco a prestação da casa.

Em alguns casos era até toda a família que à noite, ao serão, contribuía com o seu trabalho para aumentar as margens do patrão e ela própria aumentar um pouco mais o seu rendimento ao fim do mês.

Quando chegaram os contentores com os produtos chineses foi um choque brutal no mundo do emprego que se situava então ao nível dos 4% no que ao desemprego dizia respeito.

Feirantes por todo esse Portugal que vendiam em feiras e mercados esses produtos de vestuário e se abasteciam junto desses pequenos produtores particulares, muitos deles, situados no Norte do país, logo se aperceberam que ninguém conseguiria concorrer com esses contentores.

Para os países da Europa estava fora de questão voltar a produzir o que os chineses faziam muito mais barato mesmo que a qualidade não fosse bem a mesma.

Com preços mais baixos ao nível de impostos, salários, energia e uma autêntica rebaldaria relativamente às condições de trabalho, a economia chinesa tinha fatalmente que disparar e milhões de chineses do campo povoaram as cidades.

Este sim, foi o verdadeiro Salto em Frente que Mao Tse Tung tinha anunciado e que viria a transformar-se no maior desastre da História Moderna. Deng Xiaoping, ao promover o liberalismo económico, libertou a força dessa imensa população de perto de 1.400.000.000 de pessoas, mais de 4 vezes o número de europeus e que até aí estavam fora do mundo.

Pela nossa parte, as dificuldades acabaram por representar um desafio ao nosso engenho e arte e estamos hoje a vender na Europa e no mundo os sapatos mais caros... a seguir aos italianos.

No Têxtil e no Vestuário temos hoje 35.000 postos de trabalho e quase 3.000 milhões de euros da facturação dois terços dos quais para exportação.

No país das hortas e hortinhas que éramos, estamos a crescer 10% nas exportações das agroalimentares e legumes no tabuleiro das exportações apostando, tal como nos sapatos, no vestuário e no têxtil, na qualidade dos produtos tirando partido de microclimas únicos na Europa.

Houve leviandade e precipitação na abertura total do nosso mercado aos produtos chineses, arrastados pela Europa. Foi um choque abrupto e pôs os ventos a correr definitivamente a favor dos chineses mas a vida é um processo dinâmico permanente e o que é confortável hoje não o será amanhã e vice-versa.

As crises foram sempre ao longo da história factores de progresso no futuro e se alguma coisa nos ensina são os erros, mesmo quando os repetimos. Mal seja mal será que algum dia uma dessas crises não seja superável ou nos leve de rastos até ao passado como está acontecendo agora em grande parte do norte de África em que se regressou ao mais negro da Idade Média.

Voltando à China e para acabar, será bom que se venha a fazer com eles um bom Tratado Comercial para o qual devemos ir de olhos firmes e frios... à chinesa.

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