Se me der satisfação, não vai-se arrepender |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 214
Se qui sesse
de facto ganhar dinheiro não podia descuidar-se, pôr-se a dormir de pança cheia
- tinha muito trabalho pela frente para encher a pança.
Assim acolheu Durvalino com visível
benevolência e secreto entusiasmo: Zezinha do Butiá - divina providência – ainda
uma vez resolvia-lhe um problema. Mas não deixou que o varapau percebesse seu
regozijo, pois não somente no comércio com os ciganos o cidadão precisa ser
prudente: também no trato com o povo de Sergipe, Fuad Karan não se cansava de
dizer que os sergipanos são os árabes do Brasil e Fuad não tinha o hábito de falar
em vão.
- Precisar não estou precisando, dou
conta sozinho do trabalho. Mas sendo um pedido de Zezinha não posso deixar de
atender.
Tirou a limpo as habilitações do rapaz:
sabia ler, escrever e fazer as quatro operações, dizia-se disposto a enfrentar
qualquer serviço, pior do que cortar cana de sol a sol não podia ser.
- Pois vamos ver. Guarde seus trens no
quarto das mercadorias, tire uma esteira pra dormir e pode começar. Sobre
ordenado, se conversa depois. Vai depender de você, não é de mim. Se me der
satisfação, não vai se arrepender.
Por fim deixou escapar a pergunta que
prendia no peito:
- E Zezinha, como é que vai?
Como Deus permitia, respondeu o
sobrinho. Não estava vivendo em Butiá nem em Lagarto, morava em Aracaju de casa
posta pelo doutor Pânfilo Freire: médico formado, não exercia a medicina,
produzia açúcar mascavo e refinado no banguê do Funil, destilava cachaça, fazia
rapadura, era podre de rico e passara dos setenta.
Amigada com um ricaço, muito bem. Fadul
não qui s saber outros detalhes:
fogosa como era, Zezinha não havia de se contentar com rola de velho broxa,
setentão.
10
Fadul mandara cavar a cacimba atrás da
casa a conselho de Zezinha do Butiá. Dado de graça na
ocasião feliz e igualmente melancólica da visita da rapariga a Tocaia Grande
para pagar promessa feita e repetida e para vibrar facada funda, de sangrar.
Um dia desses, quando você menos
esperar, eu apareço – jurava ela na pensão de Xandu, em Itabuna. O turco não se
deixava iludir: no dia de São Nunca.
Mas o pai de Zezinha descalçara as botas em
Lagarto, vítima de sezão ou cachaça, para que tirar a limpo?
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