sexta-feira, abril 03, 2015

Se me der satisfação, não vai-se arrepender
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)



Episódio Nº 214
















Se quisesse de facto ganhar dinheiro não podia descuidar-se, pôr-se a dormir de pança cheia - tinha muito trabalho pela frente para encher a pança.

Assim acolheu Durvalino com visível benevolência e secreto entusiasmo: Zezinha do Butiá - divina providência – ainda uma vez resolvia-lhe um problema. Mas não deixou que o varapau percebesse seu regozijo, pois não somente no comércio com os ciganos o cidadão precisa ser prudente: também no trato com o povo de Sergipe, Fuad Karan não se cansava de dizer que os sergipanos são os árabes do Brasil e Fuad não tinha o hábito de falar em vão.

- Precisar não estou precisando, dou conta sozinho do trabalho. Mas sendo um pedido de Zezinha não posso deixar de atender.

Tirou a limpo as habilitações do rapaz: sabia ler, escrever e fazer as quatro operações, dizia-se disposto a enfrentar qualquer serviço, pior do que cortar cana de sol a sol não podia ser.

- Pois vamos ver. Guarde seus trens no quarto das mercadorias, tire uma esteira pra dormir e pode começar. Sobre ordenado, se conversa depois. Vai depender de você, não é de mim. Se me der satisfação, não vai se arrepender.

Por fim deixou escapar a pergunta que prendia no peito:

- E Zezinha, como é que vai?

Como Deus permitia, respondeu o sobrinho. Não estava vivendo em Butiá nem em Lagarto, morava em Aracaju de casa posta pelo doutor Pânfilo Freire: médico formado, não exercia a medicina, produzia açúcar mascavo e refinado no banguê do Funil, destilava cachaça, fazia rapadura, era podre de rico e passara dos setenta.

Amigada com um ricaço, muito bem. Fadul não quis saber outros detalhes: fogosa como era, Zezinha não havia de se contentar com rola de velho broxa, setentão.

10

Fadul mandara cavar a cacimba atrás da casa a conselho de Zezinha do Butiá. Dado de graça na ocasião feliz e igualmente melancólica da visita da rapariga a Tocaia Grande para pagar promessa feita e repetida e para vibrar facada funda, de sangrar.

Um dia desses, quando você menos esperar, eu apareço – jurava ela na pensão de Xandu, em Itabuna. O turco não se deixava iludir: no dia de São Nunca.

 Mas o pai de Zezinha descalçara as botas em Lagarto, vítima de sezão ou cachaça, para que tirar a limpo?

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