Eme ngateletele... |
No Tempo em
que os Animais
Falavam...
Não, não é uma parábola de La Fontaine. Esta foi-me
ensinada na disciplina de Kimbundu, língua falada no Noroeste de Angola,
província de Luanda, por cerca de 3 milhões de pessoas, hoje deverão ser mais, e que eu aprendi vai
para 55 anos, no Ano Lectivo 1960/61, do meu Curso de Estudos Ultramarinos, era
assim que se chamavam nesse tempo, depois de terem sido Coloniais...
Começava assim, e cito de memória: “Eme negateletele kolombolo
dia sangi...” o que, traduzido para português, significava: “Eu costumava contar
repetidas vezes a história de um galo acasalado com uma galinha...”
Pois bem, nesse tempo em que os animais falavam as raposas não
atacavam os galos até ao dia em que...
- Uma raposa encontrou - se com um galo e meteram conversa.
Palavra puxa palavra a raposa foi conduzindo o assunto ao seu jeito, conqui stando a confiança e o à vontade do galo que,
descontraído, estava já disposto a todas as confidências deste mundo...
E a raposa “atacou”:
- Diz-me lá, amigo galo, que arma é essa que vocês têm aí
na cabeça?
- A raposa sempre tivera medo da crista dos galos,
vermelha, serrilhada, lá bem no alto da cabeça com todo o aspecto de arma
secreta para, nos momentos decisivos, aniqui lar
os inimigos. Por isso, até aí, as raposas nunca tinham atacado os galos.
O galo, ufano, envaidecido pela curiosidade que a sua crista
despertara na raposa, respondeu desplicentemente:
- Ora, não é arma nenhuma. Isto são "carnes somente"... - "xixitu
ngó - ... e a raposa comeu o galo.
Como se lembram, as parábolas escondiam ensinamentos, por vezes
preciosos, daqueles que podem salvar vidas e se o galo conhecesse esta de que ele próprio foi autor talvez, ainda hoje, galos e raposas se respeitassem.
Moral da história, perdão, da parábola:
- Nunca devemos contar aos amigos as nossas fraquezas porque esses
amigos poderão um dia ser inimigos e aproveitar-se-ão do conhecimento
que lhes revelámos sobre as nossas fraquezas para nos atacarem.
Todos nós, os mais velhos, com mais experiência da vida, se aperceberam do valor deste ensinamento expresso nesta parábola da cultura kimbundu do galo e da raposa:
- ”Eme ngateletele kolombolo dia sangi...” = "eu costumava contar repetidas vezes a história de um galo acasalado com uma galinha..."
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