Uma rua em Pompeia |
POMPEIA
Em 22 de Abril de 2008, na sequência de uma viagem de
passeio a Itália que incluía a visita a Pompeia, coloquei aqui no meu blog este texto. Sete anos depois
reponho-o novamente e peço a todos que tenham a possibilidade de fazer essa
viagem e gostem de coscuvilhar na vida dos outros que viveram há dois mil anos,
façam também esta visita e oxalá que tenham a sorte de serem acompanhados de
uma Guia turística tão boa como aquela que me acompanhou.
Vão aprender mais do que aqui lo
que estudaram durante anos sobre os romanos ou melhor, vão aprender coisas
diferentes ou, melhor ainda, vão conhecê-los. As nossas raízes culturais e
civilizacionais estão ali...
Pompeia
Visitar Pompeia é dar um salto a um passado, ao nosso passado, com 2 mil anos
que não é possível fazer em mais nenhum sítio do mundo.
Dezoito mil pessoas, 80% da população
de uma cidade que fervilhava de vida, tiveram uma morte horrível sacrificadas
no altar da história pelas cinzas de um vulcão para que hoje nos seja possível,
com toda a sem cerimónia, vasculhar nas suas vidas.
As ruínas de Pompeia constituem uma
espécie de cápsula do tempo e eu estou feliz por ter podido, na semana passada,
ainda que por um reduzido período de tempo, sentir o impacto de uma cidade à
qual apenas faltam pouco mais que as estruturas de madeira e que permaneceu
escondida debaixo de 7
metros de cinzas vulcânicas aguardando que a destapassem
para que de novo pudesse voltar à luz do sol.
A história de Pompeia é conhecida de
todos, muito em especial dos europeus, pois ela aconteceu numa cidade do sul da
Europa e na orla do Mediterrâneo onde se desenvolveu a cultura greco-romana que
mais influenciou aqui lo que somos
hoje como povo.
Mas saber, ver fotografias ou
documentários é muito diferente do que estar presente, olhar e sentir,
calcorrear ruas e passeios, entrar dentro das casas, observar os trilhos feitos
pelos rodados nas lajes das ruas ao longo dos séculos, ruas que numa cidade
situada numa encosta que ia dar praia, se transformavam em leitos de pequenos
rios que escoavam até ao mar as águas das chuvas.
E ao longo das ruas lá estão as
tabernas, padarias, lojas, aqui lo
que hoje seriam os restaurantes, edifícios públicos, residências de pessoas
ricas como a de Meneandro, única pela quantidade e qualidade do artesanato que
continha, bordéis (foram encontrados 25) o teatro, os armazéns, os grandes
espaços públicos onde os comerciantes discutiam sobre os negócios e eram
expostas as estátuas dos deuses venerados como Apolo, mas também os Templos
(haviam 3 dedicados a Apolo, Júpiter e Vénus e um 4º à deusa egípcia Ísis) as
arenas, os banhos públicos, enfim, tudo o que era uma cidade daquele tempo.
Ressuscitada com tantos testemunhos a
reprodução da vida do dia a dia daquelas pessoas pode hoje ser feita no
pormenor desde como viviam, comiam e até como faziam sexo o que terá permitido
à guia afirmar que os romanos eram bissexuais.
Os prostíbulos eram constituídos por
uma série de quartos cuja mobília era apenas uma cama de pedra com um colchão
por cima. À porta, uma simples cortina onde constava o preço e a especialidade
da prostituta.
Estas, conhecidas na antiguidade por
“lobas”, aguardavam os clientes à entrada vestindo uma toga curta e uma rede
fina de fios dourados cobrindo os seios.
Os preços eram populares e
correspondiam, nos bordéis ordinários ao preço equi valente
a duas taças de vinho barato enquanto que, nos que se destinavam à elite
romana, o preço poderia quadruplicar.
Uma das contribuições mais recentes
para o entendimento desta memória foi a exposição que teve lugar no Museu
Nacional de Arqueologia de Nápoles de um conjunto de 250 de pinturas e estátuas
eróticas recolhidas dos escombros da cidade de Pompeia e de outras três
vizinhas que igualmente foram soterradas pelas cinzas do Vesúvio.
São peças de deuses, sátiros e ninfas
protagonizando cenas de sexo e um conjunto de frescos que formam uma espécie de
Kama Sutra romano.
Esta colecção, por influência da
Igreja Católica, esteve sempre guardado numa “sala secreta” cujo acesso só era
permitido aos estudiosos.
Diante de tudo isto que era
desenterrado em Pompeia alguns chegaram a classificar a cidade como um antro de
luxúria e de devassidão, uma espécie de Las Vegas do Império Romano. Esta ideia
era reforçada pelas inscrições feitas nos muros da cidade com frases que
poderiam estar nas portas das casas de banho de uma cidade moderna.
Mas esta conclusão é demasiado
simplista e não corresponde à verdade de acordo com a opinião de reputados
antropólogos. Os romanos não faziam sexo com mais frequência do que as pessoas
de hoje, simplesmente atribuíam ao acto um carácter religioso e
representavam-no na sua arte.
Para os romanos, a reprodução era um
momento mágico, sagrado e os falos eram a imagem mais divulgada que se pode
ver. Nas paredes, à entrada das casas como sinal de riqueza e prestígio do
proprietário, no chão das ruas para indicar a direcção do bordel mais próximo,
nos amuletos que se usavam ao pescoço para proteger, no meio das plantações
para assegurar a fertilidade dos campos, nas candeias, penduradas à beira das
camas, para assegurar ao casal bons fluidos adequados a uma noite de amor.
As romanas, na época do Império,
gozavam de muito maior prestígio do que as mulheres contemporâneas de outras
civilizações.
Enquanto que na Grécia, por exemplo,
o sexo feminino vivia segregado as romanas podiam participar em banquetes, ter
propriedades e gerir pequenos comércios e se não tinham direito a voto podiam
participar nas campanhas e apoiar os seus candidatos.
Pompeia desfrutava de uma economia
próspera com base no seu principal produto que era o vinho mas também a lã e
objectos de bronze que trocavam por couro, âmbar e escravos.
Metade da sua população era
constituída por crianças e a esperança de vida andava por volta dos 40 anos.
E o que faziam os habitantes de
Pompeia num dia normal das suas vidas?
Além das termas e banhos públicos
lotavam as tabernas cujos balcões se prolongavam ao longo da rua e nos quais os
clientes apressados poderiam beber um copo de vinho acompanhado de uma salsicha
ou de um doce quente.
A maioria dos moradores frequentava
as 3 arenas da cidade a maior das quais tinha capacidade para 20.000
espectadores e onde assistiam a lutas de gladiadores o mais famoso dos quais,
Spartacus, esteve aqui em instalações
que nos foi possível visitar.
Mas todos eles gozavam de
popularidade tal como hoje os desportistas tendo mesmo direito a adept os organizados e em 59 D.C., durante uma luta
entre dois gladiadores, gerou-se uma zaragata tão grande entre as claques opostas
que o estádio esteve interdito durante 10 anos.
Dois qui ntos
da cidade de Pompeia está agora a ser descoberta das cinzas mas com cuidados
rigorosos que não foram tidos nos trabalhos anteriores havendo a preocupação de
não retirar nada dos locais onde as coisas são encontradas para que a noção do
conjunto daquela realidade histórica permaneça o mais possível intocável.
A explosão do Vesúvio constituiu um
fenómeno de proporções difíceis de imaginar.
A nuvem resultante dessa explosão foi
vista em Londres e o espectáculo foi observado de Roma a 200 km de distância. Pedras
com 8 toneladas foram arremessadas a kms e uma montanha com mais de 3100 metros de altura
de encostas recobertas de árvores que à curta distancia a que se encontrava de
Pompeia constituía uma vista de grande beleza que hoje só podemos imaginar,
ficou reduzida a um monte escuro, sem graça, com pouco mais de 1.000 metros .
A maioria das pessoas morreu sufocada
pelo ácido clorídrico e outras agonizaram a um calor de quase 500 graus. De seguida,
todas foram recobertas pelas cinzas molhadas que com o tempo secaram
ajustando-se perfeitamente aos corpos de forma a registar as expressões faciais
nos momentos derradeiros.
Depois dos processos de decomposição
ficaram moldes ocos que preenchidos com gesso líqui do
trouxeram de novo para a actualidade as mais famosas imagens da cidade.
O historiador Plínio “O Jovem” que
assistiu à distância e pôde sobreviver para contar escreveu:
“Era possível ouvir o lamento das
mulheres, o choro das crianças, o grito dos homens. Alguns estavam tão
aterrorizados que rezavam pela morte. Outros levantavam as mãos para os deuses
e muitos desacreditaram da existência deles naquela noite interminável”.
A cidade permaneceu sepultada durante 1500 anos. Em 1594, o ar
O Vesúvio não é um vulcão extinto.
Ele apenas está adormecido! Pode voltar
a ser activo e, por isso, é monitorado.
Para evitar outra
tragédia, o governo italiano implantou um plano de incentivo para ajudar locais
a se mudarem (são 26 mil habitantes). O problema é que muitos resistem (e
denunciam que o valor oferecido pelo governo não é o bastante para uma mudança
digna), correndo o risco de viverem um espectáculo de horror como o de quase
2000 anos atrás.
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