Vénus de Hans Baldung |
As Gajas boas...
Todos nós nos lembramos das conversas que tínhamos em jovens sobre os atributos físicos das mulheres que nos atraíam no tempo em que havia separação de sexos e nós vivíamos longe delas por causa da política de separação dos sexos de Salazar/Cardeal Cerejeira.
Víamo-las com os olhos cheios de hormonas e não conseguíamos
conter aquelas expressões que ficaram nas nossas memórias e hoje recordamos com
saudade e até surpresa:
- “É pá, olha-me para aquele cu!” – É pá, que grandes mamas!”
Pois era, o afastamento fazia aqui lo, olhávamos para elas como se fossem de outra espécie animal, tipo Jardim Zoológico: olha-me para o tamanho daquela tromba...
Não se esqueçam que na década de 50, eu e muitos outros
jovens como eu, internados em colégios internos, até quando íamos aos Domingos à
Igreja, seguíamos percursos diferentes para não nos cruzarmos com as colegas
de feminino instaladas num prédio em outro local da cidade.
Portanto, eram as excrescências que mais nos chamavam a
atenção, que nos enchiam o olho mas mais tarde, quando era para escolher a sério,
deixávamos essas para os outros e preferíamos as de formas mais discretas que não
tinham nem o rabo nem as mamas grandes, talvez para não serem cobiçadas...
Nos anos sessenta já estávamos a sair daquele período em
que “gordura era formosura”. Tinha morrido muita gente com a tísica, chupados
pelos micróbios e as mães, as que podiam, davam muita comida aos filhos para eles
ficarem gordinhos e saudáveis, leia-se não tuberculosos.
A minha mãe foi a única sobrevivente de quatro filhos que
abalaram com a tuberculose e a minha avó para a “salvar” dava-lhe pão com muita
manteiga.
O pior que então se podia dizer de uma criança era: “coitadinho,
está tão magrinho”. “Gordinho” era, então, sintoma de saudável e abastado.
Ultrapassámos essa fase, descobrimos a cura para a
tuberculose e para muitas outras coisas e qui semos
olhar de novo, com outros olhos, para a elegância na proporção das formas nas célebres
medidas do 86-60-86 ou então, para os que as preferiam um pouco mais cheias,
90-65-90.
O segredo estava na relação daquelas três medidas mágicas:
peito, cintura e ancas que se perderam nos tempos modernos para um estilo de
mulher vertical a que nós, no nosso tempo, lembram-se, dizíamos que saíam ao pai
ou se pareciam com uma tábua de engomar.
Quando, na televisão, as vejo desfilar nas passerelles
confesso que me entristeço com estes conceitos de beleza feminina que nos
pretendem vender.
Praxíteles, escultor grego de Siracusa, com a sua
Afrodite, o primeiro a introduzir o nu feminino na arte grega, o francês
Augustin Pajou que ficou célebre pelos seus nus, “Psique abandonada” do século
XVIII, a Vénus de Botticelli, da Idade Média, todos eles reproduziram mulheres
nuas cujas formas eram as que cobiçávamos na nossa juventude, as que eram para
nós “as gajas boas” e nada tinham a ver com as “tábuas de engomar” que hoje
desfilam inexpressivas como robôs nas passerelles da moda.
Hoje, como expressão dos tempos que vivemos, deixámos tudo isso para trás. Os nossos netos e bisnetos convivem com as raparigas desde os jardins escolas até ao fim dos estudos, nas noites de sábado não vão para cabarés encontrar as mulheres de "mau porte" como nós, no princípio dos anos sessenta.
Em vez disso, frequentam com elas bares em que a bebida corre em demasia como se houvesse a necessidade de recuperar os anos perdidos e estão-se nas tintas se elas têm o rabo ou as mamas grandes.
Mais tarde, apanham-nas no trabalho e, com alto grau de probabilidade, irão servir sob as suas ordens.
Como vai longe o tempo das gajas boas...
posted by Joaquim Paula de Matos at 4:26 da tarde
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home