E por que, se mal pergunto, Coronel |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nª 263
Tamanqueiros de profissão, Guaraciaba e
Elói ergueram um casebre e começaram a trabalhar, com afinco e apt idão, o couro e a madeira. Guaraciaba por pouco não
desova no caminho, tão pejada estava.
Foi a pioneira naquela parição; uma das
estancianas, Zeferina, fechou o ciclo, teve menino na noite em que a enchente começou.
Cinco fêmeas e quatro machos nas mãos de
Jacinta Coroca, mãos abençoadas no incenso da velha Vanjé, louvor que de boca a
boca se generalizava: mandavam-na chamar das fazendas próximas.
Da mulher do coronel Setembrino Arruda
salvou a vida - a dela e a da cria - transformando em feliz sucesso um parto
difícil, prematuro, de sete meses. Dona Beatriz descansava na casa grande da
fazenda, entre Taquaras e Tocaia Grande, à espera da data prevista para ir dar
à luz em Ilhéus, assistida pela capacidade do doutor Ismael Alves, obstetra ideal
seja pela sabença celebrada, seja pela idade respeitável.
De repente foi aquele corre-corre, um
deus-nos-acuda: mandaram a toque de caixa um mensageiro com a montaria e ordens
de trazer Coroca; voando, a todo vapor.
Chegou a tempo, segurou as pontas, lutou
com a morte, palmo a palmo, não teve medo. Será que não?
3
O coronel Robustiano Andrade deu as
alvíssaras à comadre Diva, alvíssaras dignas de quem colhia mais de cinco mil
arrobas de cacau e marcava com seu ferro tantos rebanhos, incontáveis cabeças
de gado pé-duro: bois, vacas, novilhas, bezerros e dois touros guzerás,
comprados a peso de ouro no sertão de Minas Gerais, filhos de campeão importado
pelo famoso criador coronel Alfredo Machado.
Alvíssaras em nota de qui nhentos, estalando de nova.
- Foi Isabel que mandou pra comadre
comprar umas bobagens pro afilhado.
Visita de parabéns, por consequência
alegre. Entretanto Tição percebeu nos modos do fazendeiro, de hábito
conversador e trocista, uma latente apreensão. Não se aventurou a perguntar a causa
mas o próprio Coronel, ao despedir-se na porta da oficina, revelou:
- Estou muito preocupado, Tição. Muito
mesmo.
- E por que, se mal pergunto, Coronel?
-
Está chovendo sem parar nas cabeceiras do rio, uma corda- d’água cada vez mais
forte, O rio está enchendo por demais, não sei o que vai acontecer. Deus queira
não se passe nada.
Pelas dúvidas, tomei providências para retirar
o gado para aquele casco mais no interior onde fica o criatório de bezerros,
você conhece.
Também ali a chuva lavava o vale,
engordava o rio. O fazendeiro e o ferrador de burros demoraram-se um instante
examinando o céu coberto de nuvens negras, carregadas, ouvindo o zunido do
vento atravessando a mata.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home