sexta-feira, julho 31, 2015

A Mentira

Organizada









A mentira na política actual, quando se disputa o poder, adquiriu uma importância e significado que a transformaram numa arma, ou se quiserem, um instrumento que pode decidir a vitória ou derrota nas eleições.

Isto já foi verificado e denunciado em 1967, num artigo da Revista New Yorker, pela filósofa política alemã Hannah Arendt, quando alertou para o papel crescente da “mentira organizada” no espaço público moderno.

Ontem, no Memórias Futuras, fiz referência à maneira séria e convicta com que Passos Coelho mente transformando uma mentira na “verdade” que vai ao encontro do seu projecto de poder.

Quando em 2011 assinamos o Acordo da Troyka, pareceu evidente a todos os portugueses que iríamos ter que fazer sacrifícios, impostos, de resto, pelos representantes dos credores que nos iam emprestar o dinheiro.

O PS que chamou a Troyka, foi considerado responsável pela situação a que se tinha chegado e, naturalmente, perdeu as eleições.

Passos assumiu o poder numa coligação com o CDS que esteve quase a abortar no Verão de 2013, como se lembram, e nos custou uns milhões de euros nos mercados financeiros.

Era uma situação esperada que pretende agora ser desmentida através da mentira organizada ou das frases de duplo sentido como aquela de que as “pessoas estão piores mas o país está melhor”. 

(Viva o país da estatística, morra o país das pessoas!)

Mas Passos, no fundo, tem razão se pensarmos que o seu grande objectivo é uma mudança profunda da sociedade portuguesa saída do 25 de Abril e que só terminará com a revisão, a sério, da Constituição Portuguesa.

Os sacrifícios só teriam cabimento se fossem para a defesa de uma situação anterior, deteriorada pela crise económica e financeira, que iria ser reposta com esses mesmos sacrifícios. Assim, são meios para atingir outro fim.

Para Passos esses sacrifícios fazem parte de uma alteração qualitativa da nossa sociedade logo anunciada quando ele afirmou que "iria além da troyka".

A condução da política europeia está-se nas tintas para o "estado social" e Passos, idem, idem, aspas, aspas.

Os cidadãos “não podem ser piegas”, lembram-se?

- A sociedade é feita por vencedores e não por perdedores. A solidariedade custa muito dinheiro que os vencedores não estão dispostos a dar.

Os números do desemprego que o governo apresenta  fazem parte da mentira organizada mas ditos e repetidos acabam em confusão no ouvido das pessoas e o que fica é o “sound bit”.

A Fernanda Câncio, jornalista do DN, no seu artigo de hoje desmonta a mentira dos números do desemprego afirmados pelo governo  num artigo cujo título é “Milagre PAF faz puf”. (PAF, sigla da coligação que está no poder: Portugal P'ra Frente.)

Mas para quê números e mais números que as pessoas têm dificuldade em digerir?

Olha-se para a economia do país, para a evolução do PIB, para o investimento, público e privado - o que efectivamente cria emprego- para as notícias diárias dos jornais, e pergunta-se como é que o panorama poderia ser diferente na questão do emprego?

 - O que sentirá aquele português, homem ou mulher, ainda no força da idade, que se sente definitivamente afastado do mercado de trabalho, reduzido aos biscates e ao empreendedorismo?

- E os jovens que vão a todas. desesperados por baterem com o nariz na porta?

Em nome de todos eles fale-se do emprego com outra seriedade e com esperança!

Perceberam o que está em causa nestas eleições?

- Uma sociedade liberal, prosseguida por Passos Coelho, não é uma sociedade para todos, é dos vencedores, o estado social será diminuto e a solidariedade figura de retórica.

Progressivamente, o ensino, a saúde, a segurança social, tudo passará a ser um negócio. A energia, as águas, os correios, as estradas, as leis do trabalho, esse empecilho, transportes públicos, tudo tem que ser entregue ao privado. 

O aparelho do Estado não é para melhorar é para acabar.

Passos Coelho, com mais tempo e perseverança encarregar-se-à de o fazer. 

Os homens de negócio, os vencedores, os que não são piegas, aguardam.

A CGTP - Intersindical, cada vez com menos associados, no futuro, para convocar uma greve, vai ter que vender rifas...

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