Aos quarenta uma catraia boa para os urubus. |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 291
Antes da enchente, além do Caminho dos
Burros, artéria única acompanhando o rio, havia o descampado com o terreiro ao centro
e, espalhados na distância, o armazém, a oficina do ferrador de burros, o
depósito de cacau e o curral, pouso das boiadas.
Mais adiante, a Baixa dos Sapos, com as
choças de palha e a casinhota de madeira onde viviam Bernarda e Coroca. Assim
era Tocaia Grande: em paragem tão bonita um lugarejo feio.
Até a lembrança se perdeu nas águas.
O Caminho dos Burros passara a ser Rua da
Frente, de alegres fachadas coloridas. Paralela à Rua dos Fundos: houve quem preferisse
habitar mais distante do rio.
No Beco do Meio que ligava as duas vielas
- as duas ruas na ostentação do povo - os tamanqueiros viviam e trabalhavam.
Ali também dona Natalina colocara a máqui na de costura e não chegava para as encomendas. Uma
delas, recentíssima, trazida pelo capitão Natário da Fonseca: vestido de festa
para Sacramento, a zinha que embeiçara o coronel Boaventura.
Na Baixa dos Sapos novas palhoças
substituíram as que o rio levara, todas aliás. As raparigas precisavam com
urgência de um buraco onde estender ás esteiras. Outras, porém, menos
apressadas, tendo fixado raízes em Tocaia Grande - Nininha, xodó de Lupiscínio, para
lembrar apenas uma - aproveitavam para
construir habitações estáveis.
Assim, uma ruela de barracos de adobe
nasceu e prosperou: na esqui na,
pintada de amarelo, ficava a pensão de Nora Pão-de-Ló: alcunha precisa aos qui nze anos, quando debutara em Aracaju, fofo e
saboroso pão-de-ló; aos quarenta uma catraia boa para os urubus.
Pensão de Nora e não de Ressu. Ressu,
coitada, incapaz de administrar a própria xoxota, passara a idéia a Nora pelo mesmo
preço que a recebera do Capitão: de graça.
Vale a pena uma referência a fato curioso,
demonstrativo da ânsia de construção que dominara o arraial: donos de barracos
que haviam resistido à cheia terminaram por derrubá-los para edificar outros
mais confortáveis.
A
olaria não dava abasto aos pedidos de telhas e tijolos. Zé Luiz e Merência se
não ficaram ricos ao menos tornaram-se credores da maioria dos habitantes.
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