David Slown Wilson
Os povos de todo o mundo que se dedicam à pastorícia têm um conjunto de problemas comuns. Ao contrário do campo de um agricultor, a sua propriedade é móvel e pode ser roubada com facilidade.
Têm também tendência a
viverem em zonas escassamente povoadas, difíceis de governar por uma entidade
central. A única solução para estes problemas é a auto defesa que conduz a uma
“cultura da honra” que os antropólogos documentaram para povos historicamente
tão diferentes como os Nuer ( ½ milhão de pessoas que vivem nas regiões centro
– meridionais do Sudão.
São de estatura alta, pés e mãos enormes e cabeça
achatada) e os Dinkas (4,5 milhões vivendo no Sul do Sudão. São os mais altos
do mundo, 1,90 para os homens e 1,80 para as mulheres. Mabut Bol, com os seus
2,31 foi o jogador mais alto da NBA. São povos muito antigos, 3000 A .C.) em África,
os pastores gregos, os Navahos, do Sudoeste americano e os Celtas na Europa, a
quem os Romanos respeitavam pela ferocidade, mas desprezavam pela falta de
organização.
Estes povos são
semelhantes uns aos outros, não por estarem historicamente relacionados, mas
porque a evolução cultural os fez convergir no sentido de uma solução comum
para um conjunto de problemas conjuntos.
Numa “cultura da honra”
usar a violência para defender a reputação é, não só moralmente aceitável, mas
até imperativo.
O jornalista Hodding
Cárter recorda-se de ter feito parte de um júri no Luisiana na década de 30.
O caso envolveu um
homem que vivia ao lado de uma bomba de gasolina, onde costumavam estar uns
sujeitos que implicavam com ele. Um dia abriu fogo contra eles com uma
espingarda, feriu dois e matou uma pessoa inocente que estava por ali perto.
Cárter foi o único
membro do júri a propor o veredicto de culpado. Os outros protestaram.
- «Ele não teve
culpa. Se não tivesse alvejado aqueles sujeitos não era homem não era nada.»
Quanto às crianças, a
“cultura da honra” é o único mundo que conhecem.
Chris Boehm que passou
o início da sua carreira a estudar os pastores do Montenegro, uma cultura que
pratica a defesa da honra, falou-me de uma reunião de família ao anoitecer em
que deram a um rapazinho, que mal sabia andar, um atiçador de lareira e o
provocaram até ele atacar os adultos enraivecido, perante o gáudio e os
incitamentos de todos.
De igual modo, um
observador da vida do Sul observou que as crianças muito pequenas «costumavam
agarrar em coisas e lutar em cima do tapete para entreter os pais arremessando
os brinquedos para todo o lado, desafiavam as ordens paternas e até se atiravam
às visitas numa briga amigável».
Quando os rapazes
cresciam, esses jogos tornavam-se treinos para o combate. Um rapaz que voltasse
para casa a queixar-se de um agressor era enviado de volta para mostrar ao
atacante «aqui lo de que és feito».
Um rapaz que evitasse uma
pedrada era tratado como cobarde; a ideia era deixar que lhe acertassem e
depois pagar na mesma moeda.
As mulheres desempenham
um papel fundamental na “cultura da honra”, por vezes na luta, mas
principalmente na influência que exercem sobre os homens.
Eis como um romano
descrevia os antepassados femininos dos Escoceses e dos Irlandeses:
- «Um bando de
estrangeiros não conseguiria suster um único gaulês se este chamasse para o
ajudar a mulher, que em geral era muito forte e tinha olhos azuis, especialmente
quando, com o pescoço inchado, de dentes cerrados e brandindo os braços
pálidos, de um tamanho descomunal, ela começava a desferir murros, misturados
com pontapés, como se fossem projécteis enviados por uma catapulta.»
Os Sulistas dos
primórdios da América do Norte idolatravam as mães da antiga Esparta, que,
segundo afirmavam, ordenavam aos filhos que voltassem da batalha ou com os
escudos ou em cima deles. A mãe de Sam Huston deu-lhe um mosquete, ao mesmo
tempo que lhe dizia:
- «Nunca o
desonres; não te esqueças que eu preferiria ver todos os meus filhos numa
sepultura honrada a saber que um deles tinha virado as costas para salvar a
vida.» Depois ofereceu-lhe um anel de ouro singelo com a palavra «honra»
gravada no interior.
Quando perguntaram a um
veterano sulista da Guerra Civil porque motivo continuavam os Confederados a
combater depois da derrota ser certa, este respondeu:
- «Tínhamos medo de
parar… Receávamos as mulheres em casa… Elas teriam vergonha de nós.»
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