Portugal
(Domingos Amaral)
Episódio Nº 21
Afonso Henriques recuou, rastejando, mas ela dobrou o joelho, pousou-o no chão e apontou-lhe a faca, ameaçando-o:
- Vou furar-vos a barriga,
cristãozinho!
Nesse momento ouviu-se o
autoritário grito de Zulmira:
- Fátima!
A rapariga olhou para a mãe,
que se aproximara, tensa e aflita. Pelo canto do olho, viu também que, descendo
pelas escadas de madeira, aparecera uma comitiva de três pessoas.
Á frente vinha Dona Teresa,
altiva e bela, envolta num manto escarlate. Acompanhava-a o marido, Bermudo,
bem como o irmão mais novo deste, Fernão Peres de Trava, ambos com capas
galegas de cor esverdeada sobre os ombros.
Surpreendidos, olhavam para
a celeuma entre as crianças.
- Afonso é o príncipe, não
lhe podeis fazer mal – murmurou Zaida.
Fátima mirou Afonso
Henriques e sorriu com desprezo:
- Fica para a outra vez.
Levantou-se enquanto Dona
Teresa e os irmãos Trava se acercavam.
Radiosa, com os seus longos
cabelos morenos apanhados por uma pequena touca que lhe moldava a cabeça, e o
olhar vivo e alegre de quem recebera boas notícias, Dona Teresa ficou, porém,
imediatamente desinteressada dos catraios quando passou por Zulmira e parou a
olhar para ela.
Confundida, franziu o
sobrolho e perguntou:
- Quem sois vós?
Zulmira explicou-se: era
esposa de Taxfin, governador de Córdova, um dos comandantes das tropas do
califa, e ficara prisioneira no ano anterior, aquando do primeiro cerco a
Coimbra, juntamente com suas filhas.
Dona Teresa parecia procurar
na memória aquele rosto,, associando-o a algum local, algum acontecimento
passado. Todavia, não a deve ter conseguido identificar, pois interrogou-a.
- Já nos conhecemos?
Zulmira negou
apressadamente. As três mouras tinham permanecido em Coimbra durante esse ano,
enquanto dona Teresa viajara por Braga, Viseu e Tui. E, nas últimas semanas, a
rainha estivera ocupada com afazeres militares e raramente passeava pela
cidade.
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