terça-feira, julho 21, 2015

Batucaram até de madrugada
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 289





















Para construir não bastam os braços, nada se faz sem o uso dá cabeça. Propusera ademais que assinalassem o feito e combatessem a chuva e o frio com um fovoco, e assim se fizera.

Batucaram até de madrugada, oito viventes contando tropeiros, ajudantes, putas e ele, Pedro Cigano, de fole em punho.

- Perguntem a Lázaro se é mentira - desafiava.

Acontecidos de antanho, vetustos, nem o turco os conhecia.

Mas Lázaro aí estava, vivo, tangendo tropas da Fazenda do Malhado para Itabuna, podia confirmar ou desmentir a carrada de detalhes citados pelo viramundo: as putas eram três, Coroca há de se lembrar.

Recordava os nomes das outras duas: Maria Grelão, já falecida, e Do Carmo que, ao se amigar com o vaqueiro Oséias, deixara de fazer a vida.

Pedro Cigano perorava no parlatório do cacete armado: cacete armado como se dizia quando Fadul abriu as portas do negócio, para vender cachaça, jabá e rapadura.

Como havia de faltar? Nenhum acontecimento de importância, bom ou ruim, sucedera em Tocaia Grande sem que dele participasse o tocador de harmónica.

Com o pífio, ah, com o divino som de seu fole comandara festas de truz, forrós de arromba. Alegre conviva na mesa do rega-bofe, brioso parceiro no emborco da garrafa, moço bonito no xodó das raparigas, com a mesma têmpera e a mesma compostura testemunhara e padecera as adversidades e as desgraças a que se viram expostos lugar e moradores.

Do assalto dos jagunços quando Tocaia Grande não passava de uma tapera com quatro putas e uma bodega, conforme definira Gerino na remota ocasião, até a enchente do rio que, se não acabara com o arraial, pouco faltou.

- Já sabe, seu Pedro? Tão dizendo por aí que até o coronel
Boaventura vai vir pra festa. - Anunciou Durvalino, o sabe-tudo.

- Praza Deus! Dantes o Coronel gostava de um forró e de uma mulherzinha nova. Era mais moderno e menos rico.

- De mulher nova gosta até hoje.

Falando em mulher, o turco quis saber se o amigo Pedro Cigano já estivera na pensão de Nora Pão-de-Ló:

- Tem uma recruta, uma tal de Ceci... - juntou os dedos da mão direita, colheu um beijo nos lábios e o lançou no ar para completar o elogio da rapariga.

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