Batucaram até de madrugada |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 289
Para construir não bastam os braços, nada se
faz sem o uso dá cabeça. Propusera ademais que assinalassem o feito e
combatessem a chuva e o frio com um fovoco, e assim se fizera.
Batucaram até de madrugada, oito viventes
contando tropeiros, ajudantes, putas e ele, Pedro Cigano, de fole em punho.
- Perguntem a Lázaro se é mentira - desafiava.
Acontecidos de antanho, vetustos, nem o
turco os conhecia.
Mas Lázaro aí estava, vivo, tangendo
tropas da Fazenda do Malhado para Itabuna, podia confirmar ou desmentir a
carrada de detalhes citados pelo viramundo: as putas eram três, Coroca há de se
lembrar.
Recordava os nomes das outras duas: Maria
Grelão, já falecida, e Do Carmo que, ao se amigar com o vaqueiro Oséias, deixara
de fazer a vida.
Pedro Cigano perorava no parlatório do cacete
armado: cacete armado como se dizia quando Fadul abriu as portas do negócio,
para vender cachaça, jabá e rapadura.
Como havia de faltar? Nenhum acontecimento
de importância, bom ou ruim, sucedera em Tocaia Grande sem
que dele participasse o tocador de harmónica.
Com o pífio, ah, com o divino som de seu
fole comandara festas de truz, forrós de arromba. Alegre conviva na mesa do
rega-bofe, brioso parceiro no emborco da garrafa, moço bonito no xodó das
raparigas, com a mesma têmpera e a mesma compostura testemunhara e padecera as
adversidades e as desgraças a que se viram expostos lugar e moradores.
Do assalto dos jagunços quando Tocaia
Grande não passava de uma tapera com quatro putas e uma bodega, conforme definira
Gerino na remota ocasião, até a enchente do rio que, se não acabara com o
arraial, pouco faltou.
- Já sabe, seu Pedro? Tão dizendo por aí
que até o coronel
Boaventura vai vir pra festa. - Anunciou
Durvalino, o sabe-tudo.
- Praza Deus! Dantes o Coronel gostava de
um forró e de uma mulherzinha nova. Era mais moderno e menos rico.
- De mulher nova gosta até hoje.
Falando em mulher, o turco qui s saber se o amigo Pedro Cigano já estivera na
pensão de Nora Pão-de-Ló:
- Tem uma recruta, uma tal de Ceci... - juntou
os dedos da mão direita, colheu um beijo nos lábios e o lançou no ar para completar
o elogio da rapariga.
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